Grande literatura foi dedicada aos rituais de passagem para a vida adulta, em que uma iniciação, uma perda operam uma mudança transformadora, um “bonjour, tristesse”. Cesare Pavese (1908-1950) explora, aqui, essa epifania existencial com subtileza, uma escrita feita de elegância seca e implacabilidade de entomologista. E usando a metáfora transparente da pintura: o quadro acabado nunca refletirá a decadência do seu modelo (uma das personagens, figura habitual nos ateliers de artistas, há de contrair sífilis…), os corpos vigorosos cedem lugar às naturezas-mortas…

Este verão italiano, de colinas a perder de vista, viagens de elétrico e idas ao cinema, de escapadelas à vigilância dos que trabalham, é também o verão mítico, o verão da juventude eterna. “Nesse tempo, era sempre uma festa. Bastava sair de casa e atravessar a rua, para ficarmos como doidas, e tudo era tão bonito, especialmente de noite, que ao voltarmos mortas de cansaço esperávamos ainda que acontecesse alguma coisa, que se desencadeasse algum incêndio, que em casa nascesse uma criança, ou talvez que o dia viesse de repente e que toda a gente saísse para a rua e se pudesse continuar a andar, andar até aos campos e até para lá das colinas” – eis as primeiras linhas desta novela.
Ginia é uma rapariguinha de 16 anos, desconhecedora dos mistérios adultos. A sua inocência é posta à prova quando, simbolicamente, deixa os horizontes largos da paisagem e entra no interior dos ateliers dos artistas para quem posa a sua nova amiga, Amélia – mais velha, mais sofisticada. Aí, começam os jogos do amor, do sexo, do ciúme, da liberdade. Um mundo novo. “Vamos onde tu quiseres”, dirá Ginia. “Guia-me tu.”