O passado de João Morais nos meios mais underground do rock nacional, como guitarrista de bandas como Corrosão Caótica, Carbon H ou Gazua, não deixava adivinhar uma reinvenção como a que conseguiu enquanto O Gajo. Tanto dele próprio, como músico, como do instrumento adotado por esse seu alter ego nascido em 2017: a tradicional viola campaniça, que conheceu, “quase por acaso”, numa noite em Beja, pela mão de “um exímio tocador” da dita.
É já o terceiro disco assinado pelo projeto O Gajo, de João Morais. Subterrâneos marca uma viragem no seu percurso, agora menos solitário depois de apostar num trio instrumental.
Sem o saber, tinha encontrado a via que há muito procurava: “Criar um som próprio, imediatamente identificado como português.” Pelo caminho, trocou as voltas a este instrumento tradicional alentejano, trazendo-o para a confusão da grande cidade com o elogiado álbum de estreia, Longe do Chão, que através de 11 temas instrumentais transportava o ouvinte numa nostálgica viagem por uma Lisboa cada vez mais em risco de extinção, guiado pelo som de uma viola campaniça entre o fado e o punk rock.
Um universo entretanto alargado com As 4 Estações de O Gajo (2018) e agora outra vez expandido a territórios totalmente virgens neste Subterrâneos, um disco no qual, pela primeira vez, se apresenta em formato trio e logo na companhia de dois pesos-pesados da música portuguesa: Carlos Barretto, no contrabaixo, e José Salgueiro, na percussão. “Gosto de me reformular, de não repetir fórmulas, e por isso senti necessidade de trazer mais alguém para o barco”, assume. Antes, porém, teve de “criar uma narrativa própria”, que deixasse a linguagem d’O Gajo intacta mas ao mesmo tempo permitisse aos convidados desbravarem novos caminhos para a viola, tal como acabou por acontecer.
São vários os ambientes musicais que se cruzam neste álbum, por entre jazz, fado, rock e sonoridades tradicionais mais ou menos exóticas. “Se é indefinível é bom sinal, porque esse é o espaço onde gosto de me mover”, sublinha.
Veja o vídeo do tema Electro Santa, primeiro single retirado do disco Subterrâneos