Alguns dos fãs mais antigos de Sharon Van Etten, cantautora que fazia de cada canção uma sessão de psicanálise, não lhe perdoarão esta ousadia de trocar o folk rock intimista por uma eletropop histriónica e, heresia das heresias, até dançável. Mas a vida é feita de mudança e a de Sharon mudou muito nos últimos quatro anos, desde o álbum Are We There, composto na ressaca de (mais) uma “relação tóxica” da artista de New Jersey, que entretanto encontrou o amor ao lado do baterista Zeke Hutchins, com quem teve um filho.
Pelo meio, dedicou-se ao cinema (escreveu guiões e estreou-se como atriz) e voltou à universidade para estudar Psicologia. É toda uma nova pessoa que se revela neste Remind Me Tomorrow. Mas debaixo dos pianos, sintetizadores e ritmos orelhudos está tudo o que fez de Sharon Van Etten uma das grandes escritoras de canções da última década. Basta ouvir o tema de abertura, I Told You Everything, em que revela alguns detalhes de um passado traumático ao novo companheiro, para perceber o quanto a música continua a ser tão importante para exorcizar fantasmas. As cores com que pinta todas as novas músicas parecem, muitas vezes, servir apenas para maquilhar uma negritude quase gótica, presente em todo o disco.
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