Décadas depois de ter estado na ilha-cidade norte-americana (em 1953), e de ter escrito este livro, Jan Morris confessa os “laivos de elegia”. Mas a história recente dos EUA, o atentado às Torres Gémeas, a aplicação do “big is beautiful” a outras regiões do mundo, levaram a que Nova Iorque perdesse o brilho cantado por Sinatra.
Manhattan’45, assim batizado porque “soava, em parte, como o nome de uma arma e, em parte, como uma marca de champanhe” – “poder e festa, portanto”, sublinha o coordenador desta coleção, Carlos Vaz Marques –, é uma homenagem romântica, fábula historicista reconstruída a partir de histórias e imagens da revista Life ou de fotógrafos como Weegee, de lendas urbanas (como a do imparável mayor Fiorello LaGuardia), de memórias evocativas como a das noites em que o teto do salão Starlight do Hotel Waldorf-Astoria abria para revelar céus estrelados, das festas boémias do “viveiro” de artistas da cidade ou do endeusamento do elevador, metáfora da ascensão.
É uma Atlântida glamorosa, ainda que o crime organizado pulsasse e os negros estivessem confinados ao Harlem. Manhattan, ao contrário da Europa ressacada pela guerra, luzia com otimismo e perpétuo movimento − arautos de “uma nova era esplendorosa”, na qual “a delicadeza no trato com estranhos era também generalizada.”