Este é um livro póstumo, mas não é um livro póstumo qualquer. Não Respire começou a ser escrito quando o jornalista Pedro Rolo Duarte soube que tinha cancro. Escreveu-o durante um ano. Pedro pôs um ponto final em Não Respire escassos dias antes de a doença pôr um ponto final na sua vida. Tinha 53 anos.
Esta não é, porém, uma autobiografia ou o diário de um doente − “esperem, quando muito, bocados soltos de uma vida comum”, diz ele na introdução aos 155 textos, divididos em dez partes, do livro. Uma estrutura que inclui o princípio do romance que nunca escreveu, crónicas publicadas em revistas, o caderninho com 16 ideias para os 16 anos do filho, poemas. O fio condutor acaba por ser, ainda que de forma quase invisível, a doença – e a enorme coragem com que enfrenta a notícia que lhe chegou pelo telefone, numa manhã. “Agora estou sentado no sofá, a pensar que o pior e mais difícil vai ser contar à mãe e ao meu filho. (…) Sou capaz de rir sozinho, imaginando uma empresa de comunicação que faça esse trabalho por mim.”
Será neste tom realista e com humor que Pedro vai contando o que lhe acontece, à mistura com episódios da sua vida pessoal e profissional, construindo uma geografia sentimental que viaja entre a serra de Sintra e as redações, entre a militância política e as amizades, entre o medo de morrer e o prazer de fazer. Nesta viagem, descobrirá o leitor os estúdios da TSF quando ainda era uma rádio pirata, o fecho épico da primeira edição d’O Independente, programas de TV filmados em fita reversível, o início da VISÃO, a aventura do DNA (suplemento do Diário de Notícias), as conversas na sala de espera de um hospital. Mas descobrirá, sobretudo, um homem íntegro e inteiro.