Mas afinal quem é este Gajo? A pergunta impõe-se facilmente e será com certeza uma das razões de tão singelo nome para um músico que se arroga a tal sacrilégio, de trazer para as sujas ruas do rock e da grande cidade a pueril sonoridade da viola campaniça.
Vamos, então, por partes: já lá vão uns anitos desde que João Morais, um guitarrista de créditos firmados no rock mais underground nacional, enquanto membro de bandas como os Corrosão Caótica, Carbon H ou Gazua, se apaixonou, durante um concerto em Beja, por uma bela alentejana, de seu nome viola campaniça, que trouxe consigo para a grande cidade. A mudança não terá sido fácil, mas o amor tudo torna possível e, da mesma forma que João desligou da ficha a guitarra elétrica, também a pequena campaniça se foi habituando a esta outra vida, enquanto deambulava, com o novo companheiro, pelas ruas e vielas de Lisboa, a outra grande paixão deste músico.
Ao contrário do que é habitual, neste caso, o triângulo amoroso deu lugar a um casamento perfeito, cujo primeiro filho é este disco, Longe do Chão. Ao longo de 11 temas instrumentais, O Gajo transporta assim o ouvinte numa nostálgica visita guiada a uma Lisboa cada vez mais em vias de extinção. Uma Lisboa onde sempre Há Uma Festa Aqui ao Lado, Uma Ginja Com Elas ou um Miradouro da Batucada. Mas também velhas carteiristas, cegos a tocar guitarra e navalhas em ruas escuras. Quanto à Campaniça, também já se sente em casa. Tanto soa a fado como a punk rock, mas sem nunca deixar de ser quem é – tal como os lisboetas, os habitantes dessa cidade aberta ao mundo, onde todos chegaram de qualquer lado.
Ouça aqui o tema Há Uma Festa Aqui ao Lado