
‘O Meu Nome Era Eileen’ marca a estreia da autora norte-americana Ottessa Moshfegh, de 36 anos, nas livrarias portuguesas
Krystal Griffiths
Eileen destila uma fúria de morrer. Filha de pai bêbado, atravessa o alpendre da casa onde vive, imaginando que as estalactites de gelo lhe desbastam os órgãos como uma “adaga de vidro”. Descreve-se a si própria como “enfadonha, irrelevante”, mas estrebucha de zanga e abespinhamento, “a mente como a de um assassino”. E fantasia: com a fuga para uma capital, e com o guarda bonitaço do instituto de correção de menores onde trabalha.
O mal só podia acontecer, é disso que vive este romance noir despachado e sardónico, da norte-americana Ottessa Moshfegh, premiado com o PEN/Hemingway. E nesse dezembro de 1964, as sombras adensam-se com a aparição de Rebecca, personagem de nome hitchcockiano. Haverá crime e reviravoltas em O Meu Nome Era Eileen (Alfaguara, 264 págs., €18,90), contados a posteriori, na pacificação da velhice, mas numa voz que mantém o deliberado descaramento da juventude.