Alguma da melhor música de Rodrigo Leão, depois dos velhos tempos da Sétima Legião e dos Madredeus, vive da associação com diversas vozes que, pelas misteriosas regras da alquimia musical, ali encaixam na perfeição. Ana Vieira no tempo do Vox Ensemble, a inesquecível Pasión com Lula Pena, Beth Gibbons, Adriana Calcanhotto, Neil Hannon… O encontro entre as composições de Rodrigo Leão e o músico australiano radicado nos Estados Unidos, Scott Mathew revelou-se, pela primeira vez, no disco A Montanha Mágica, de 2011, com a canção Terrible Dawn. Na compilação Songs apareceria, ainda, um outro tema inédito, fruto dessa colaboração: Incomplete. Era claro, então, que estes universos eram absolutamente compatíveis falando, de algum modo, na mesma língua. E não é preciso escavar muito para encontrar o principal denominador comum dos mundos (musicais) de Rodrigo e Scott: uma mesma melancolia – não será grande exagero falar mesmo em tristeza –, quase sempre temperada com tons de nostalgia. Os títulos e letras de praticamente todas as 13 canções deste Life is Long, disco que celebra essa união, são bem elucidativas dessa dimensão melancólica: The Fallen, Empty Room, Unnatural Disaster…
Como se diz de alguns escritores que escrevem sempre o mesmo livro, é fácil dizer de Rodrigo Leão que compõe sempre a mesma música, a mesma canção… Isso só significa que tem uma identidade absolutamente própria, misteriosamente presente em cada acorde. Talvez, a isso, se chame alma. Neste Life is Long sabe bem reencontrar um lado mais pop (e mesmo enérgico, como em Enemies) e centrado em canções depois da estreia, em 2015, no catálogo da Deutsche Grammophon com O Retiro, ao lado da orquestra e coro da Gulbenkian.
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