Anabela Santos, coordenadora da Associação Almargem, que gere a Via Algarviana, não tem dúvida. “Esta é das melhores alturas para caminhar. O campo está muito bonito, começa a floração.” Anabela fala das estevas, da rosa-albardeira, das orquídeas “pequeninas” (“não são aquelas de supermercado”), que levam nomes como “macaquinhos dependurados”, “abelhão”, “moscardo”. Roxas, amarelas, cor de rosa, brancas… é preciso estar atento e ter o olho treinado para as ver nos caminhos do barrocal.
A grande rota que cruza 300 quilómetros do Algarve, entre Alcoutim e o cabo de São Vicente, para dar a conhecer a região além da praia, tem novidades nesta primavera. São sete novos percursos pela serra de Monchique, pela paisagem do interior de Alcoutim e ao longo do rio Arade, resultantes de duas candidaturas financiadas pelo Turismo de Portugal.
No sobe-e-desce que é Monchique, por entre sobreiros, eucaliptos, castanheiros e carvalhos, estão agora sinalizadas três rotas circulares, que não vão além dos oito quilómetros, e duas ligações lineares à Via Algarviana (já lá iremos).
São percursos mais pequenos, porque na zona, explica Anabela Santos, “já existe uma rede grande de trilhos” (escreva-se que Monchique é o município que tem mais caminhos marcados).
A associação decidiu apostar na freguesia de Alferce, a mais afetada pelos incêndios de 2018, “para ajudar a revitalizar a economia”. Se a Natureza tem o superpoder de se regenerar, as marcas do fogo ainda lá estão. “Não quisemos ocultar o que aconteceu, nem que esta serra tem a particularidade de, ciclicamente, ser afetada por incêndios. A freguesia tem sítios fantásticos.”
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Os passeios revitalizantes têm nomes apelativos: Percurso das Hortas, à volta da vila termal por entre hortas, bosques e pomares; Pelos Caminhos de Alferce, passando por “vales, riachos, campos agrícolas e uma calçada medieval”; e Entre o Vale e o Castelo islâmico de Alferce, um percurso montanhoso “com vistas soberbas dos cumes” e que se vai cruzar com um novo passadiço que a junta de freguesia está a terminar (a inauguração está prevista para maio).
As duas ligações à Via Algarviana fazem-se entre Monchique e Alferce, precisamente por caminhos centenários e um trilho florestal que permite um desvio até à Picota, o segundo ponto mais alto do Algarve, a 774 metros de altitude (o primeiro é a Foia).
Tudo isto está detalhado no Guia de Percursos Pedestres de Monchique, em formato A5, também ele acabado de lançar, no qual constam, além dos ditos, um passeio áudio guiado pelas chaminés de saia, tradicionais da vila, uma carta militar e um mapa ilustrado onde estão desenhados o medronho, a adelfeira (planta rara e única neste território) ou os javalis da serra.
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Um arrozal, paraíso de aves
A grande novidade, diz Anabela Santos, é a Ligação 9 (15,8 quilómetros), entre as estações de comboios do Parchal e de Silves, por terras de Lagoa, “com o objetivo claro de promover a mobilidade”. O caminho faz-se junto ao rio Arade, passando por sapais, paisagens de vinha, o Sítio das Fontes (tem mesas de piquenique e casas de banho, permitindo fazer uma paragem mais ou menos a meio) e, surpresa, o Arrozal de Nossa Senhora do Rosário, paraíso de aves.
O novo percurso em Alcoutim também pede boas pernas. De Vaqueiros a Martim Longo (18,70 quilómetros), com passagem pela ribeira da Foupana (nasce na serra do Caldeirão), caminha-se até ao topo dos cerros, por entre estevas, azinhais e sobreirais, e desce-se até às linhas de água.
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A ajudar a desbravar este Interior Algarvio está a nova aplicação grátis, em cinco idiomas (português, inglês, francês, alemão e holandês), que permite uma navegação offline.
Também o Guia da Via Algarviana tem uma reedição acabada de sair, digital e em papel – este continua a ser o suporte preferido, diz a coordenadora da Almargem, sublinhando que os percursos estão assinalados de forma que “as pessoas possam seguir o caminho sem precisar de consultar a aplicação ou os mapas”.
Quando perguntamos qual a melhor altura para fazer estes passeios, Anabela Santos responde que “o ideal é a partir de outubro até ao início do verão”, para logo rematar: “A mais bonita é agora.” Nunca é demais repetir, pois não?