Pode não ser fácil a viagem até à Quinta Nova Nossa Senhora do Carmo – depois de atravessarmos o traçado da Estrada Nacional 222, considerada uma das mais bonitas do mundo, e a vila do Pinhão, após a qual ainda são mais oito quilómetros, sempre a subir, ao ritmo das curvas na margem direita do rio Douro. Mas o caminho compensa (e muito), quando se contempla este “excesso da Natureza”, como escreveu Miguel Torga, sobre a paisagem duriense.
A quinta com mais de 250 anos, propriedade da família Amorim desde 1999, foi pioneira no enoturismo na região e colocou a maior empresa produtora de cortiça do mundo na área do turismo e da produção de vinhos, a sua maioria, tranquilos (só 10% são de vinho do Porto). Dos 11 quartos da antiga casa senhorial – três dos quais com acesso a um terraço privado –, olhamos as águas do Douro e a beleza das vinhas, que mais parecem desenhadas a régua e esquadro, com as uvas à espera do ponto certo para serem colhidas. Apesar de todo o conforto no seu interior, com várias salas e um wine bar, é lá fora que apetece estar – seja a dar um mergulho na piscina com vista para os vinhedos, seja a visitar o muito que há para ver nesta quinta, como a capela de 1795 sempre de portas abertas.
Quem queira aventurar-se, é meter-se ao caminho pelos 120 hectares da quinta – há três percursos pedestres assinalados, com níveis de dificuldade distintos, de 0,6 km a 5,7 km, com passagem pelo miradouro, pelo pomar romano, pelo marco pombalino e, já junto ao rio, pela capela de Nossa Senhora dos Navegantes, onde, outrora, os tripulantes dos barcos rabelo pediam proteção para a viagem até às caves em Vila Nova Gaia. Optamos por uma visita à adega, uma das mais antigas do Douro vinhateiro (1764). Atravessando o Ateliê do Vinho, como lhe chamam – onde as uvas se transformam em néctares como Pomares, Grainha ou Mirabilis –, chegamos ao Wine Museum que, desde o ano passado, mostra ao público um espólio único, reunido por Fernanda Ramos Amorim, a contar ao pormenor a história da produção do vinho do Porto, desde o século XIX. Ainda havemos de passar pela sala histórica, que guarda todo o portefólio de vinhos Quinta Nova, pelas barricas de carvalho húngaro e francês, terminando a visita na loja. Com uma vista soberba para as vinhas e com as águas do rio a correrem lá ao fundo, é ali que se fazem as provas comentadas.
O dia já vai longo, mas ainda há tempo para um passeio de barco no Senhora do Carmo – o wine boat da nova empresa Rivus, de António Chaves e de Rui Batista, atracado no Cais do Ferrão –, que nos leva numa viagem de duas horas, “aliando o rio aos vinhos”. O relógio marca as seis da tarde quando embarcamos – sorte a nossa que vimos o sol quase o pôr-se –, mas há outros horários ao longo do dia. Já à noite, é ao som das cigarras que se escuta por aqui que jantamos no pátio da casa, onde, durante o verão, são servidas as refeições do restaurante vínico Conceitus (aberto também a não hóspedes, fica a nota). O chefe André Carvalho, 25 anos, nascido e criado no Douro, propõe dois menus de degustação diferentes em cada dia (€46), preparados com produtos da horta da quinta: tomate coração-de-boi, beringelas, feijão-verde, manjericão, mirtilos, framboesas. Provámos um magnífico carpaccio de polvo, uma dourada corada com puré de beterraba e uma soberba tarte de limão merengada, com gelado de caramelo salgado. Quem quiser, pode harmonizar a comida com vinhos da quinta (acresce €28), escolhidos pelo enólogo Jorge Alves. Escutam-se, ao longe, as concertinas que animam as habituais festas de agosto nas aldeias vinhateiras. E logo apetece brindar ao Douro!
As visitas à adega, com passagem pelo Wine Museum, acontecem diariamente às 10h45, 12h15, 15h30 e 17h, e incluem uma prova de três vinhos (€16, mediante reserva prévia).
Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo > Covas do Douro, Sabrosa > T. 254 730 430 / 96 986 0056 > a partir €160 > passeio de barco a partir €55/pessoa