1. Ciclo50, Lisboa
Daniel Encarnação, 48 anos, acabou de substituir o travão de uma bicicleta e pela frente tem mais três ou quatro velhinhas e ferrugentas para decapar, para depois pintá-las todas ao mesmo tempo. Daniel tanto recupera as bicicletas dos clientes como também as compra em segunda mão, restaura-as e põe-nas à venda, a rondar os 400 euros. Algumas ficam só com o primário à espera de que o cliente escolha a cor.
Nas reparações vale tudo, desde rodas, pneus, pedais, travões, guiador, tinta, porta-bagagens ou guarda-saias, e Daniel também coloca equipamento elétrico nos modelos de BTT – só o aparelho custa €1 200, sem mão de obra. Já os selins de couro da portuguesa Tabor, em Águeda há 56 anos, custam 100 euros.
Desde que, em janeiro deste ano, abriu a Ciclo50 – um negócio em conjunto com a mulher, Marie France, 45 anos, contabilista de profissão – que o antigo mecânico de pesados em França não tem mãos a medir para os restauros e as reparações de bicicletas antigas. Portugueses, nascidos em França, Daniel e Marie mudaram-se para Lisboa em 2019, apesar de ele ter origens no Algarve e de ela ser de Barcelos. Aberta numa antiga mercearia em Campo de Ourique, a Ciclo50 é especializada no restauro, em especial das tradicionais pasteleiras Yé-Yé, uma viagem entre os anos 1950 e 1970. Esta é uma loja, e oficina, aprimorada que convida a beber um café ou uma água e a dois dedos de conversa. S.C. R. do Possolo, 50B, Lisboa > T. 96 142 6765 > seg-sex 9h-18h
2. Armazéns Airaf, Lisboa
O trabalho nos Armazéns Airaf é tanto que foi preciso colar um papel a dizer que se continua a aceitar reparações, mas com um período mais alargado de entrega. A explicação é simples e não tem só que ver com a pandemia. Esta loja e oficina, em Alvalade, é a mais antiga de Lisboa e, até 2018, tinha o carismático José Machado Gomes ao comando, mas desde julho de 2020 que é Fernando Chicarini, mecânico de bicicletas, quem gere a casa. “Trabalhei durante nove anos com o sr. Machado; quando o genro e a filha me propuseram o negócio, eu não tinha como não aceitar”, diz Chicarini. Em Portugal desde 2005, trouxe do Brasil o gosto pelas bicicletas. “Comecei a fazer consertos muito cedo e, aos 13 anos, abri a minha primeira oficina”, conta, entusiasmado, até ser interrompido por um cliente à procura de uma peça. “As pessoas sabem que aqui encontram tudo; continua a ser uma referência”. No primeiro piso, mostram-se vários modelos de bicicletas – a pedal, elétricas, para crianças, com ou sem mudanças –, acessórios e peças, muitas peças que Chicarini sabe de cor para que servem. A cave é onde a magia acontece. “Reparamos tudo, da avaria mais pequena ao restauro de uma pasteleira”, sempre sob o princípio de se recuperar o máximo possível as peças originais. Também se eletrificam bicicletas e se recebem arranjos mais complicados provenientes das lojas Alfacicla, BK Lisboa e Dimope. “Funcionamos em parceria, há bicicletas em que nem toda a gente mexe.” Av. Rio de Janeiro, 29B, Lisboa > T. 21 840 3050 > seg-sex 10h-13h, 15h-19h, sáb 9h-13h
3. MUD – Manufacture Under Design, Porto
Cansado da correria diária, João Baptista entregou a empresa de publicidade à filha, em 2011, e dedicou-se a criar uma bicicleta de madeira. “Ele sempre teve o bichinho das duas rodas”, diz Fátima Bonifácio, mulher de João e responsável pela primeira loja da marca MUD – Manufacture Under Design, na Baixa do Porto. Foi um processo “longo e doloroso”, continua, “não basta ter uma boa ideia, é preciso que ela seja sustentável”. Ultrapassado o ceticismo inicial, atualmente há mais de 60 bicicletas da MUD a circular, grande parte no estrangeiro. São feitas à mão, por João Baptista, a partir de contraplacado marítimo de bétula e com apontamentos em metal, nas rodas e na direção. Para aproveitar as sobras de madeira, a dada altura, o casal criou um leque de acessórios (bolsa de ferramentas, alforges, mochilas e carteiras, a partir de €49,90), além de uma linha de mobiliário e de iluminação. “Mais do que uma marca ou uma bicicleta, é todo um conjunto que faz funcionar a máquina”, resume Fátima. MUD – Manufacture Under Design > R. Sousa Viterbo, 99, Porto > T. 93 931 2638 > seg-dom 10h-19h
4. Cicloficina dos Anjos, Lisboa
É fácil identificar a Cicloficina dos Anjos. A funcionar, por agora, uma vez por semana, ao final da tarde, tem sempre à porta bicicletas em reparação. Criada em 2011, “nasceu numa altura em que quase ninguém tinha bicicleta e não havia muitas oficinas”, justifica Nuno Pinhal, um dos membros fundadores deste coletivo. “O princípio da Cicloficina é o de capacitar ao máximo os utilizadores com conhecimentos que lhes permitam ser autónomos na manutenção e uso do veículo, mas a Cicloficina é também um ponto de encontro, de troca de ideias e experiências”, diz. Desde afinar travões a desempenar uma roda ou trocar um guiador, tudo é feito pelos proprietários com a ajuda de voluntários que percebem de mecânica. Renato, 16 anos, é cliente habitual. “Venho aqui várias vezes, já aprendi muita coisa”, diz o jovem estudante, enquanto observa Mark Lang na execução de uma tarefa. Na Cicloficina, o material é doado, e as ajudas voluntárias. Para manter-se em funcionamento, depende de contributos, à medida do bolso de cada um, e da entreajuda. Quem quiser ser voluntário, faça-lhe uma visita. R. Dr. Almeida Amaral, 15A, Lisboa > qua 18h-22h
5. Selim – Banco de Bicicletas, Lisboa
Desde o lançamento, em setembro do ano passado, que o Selim não tem mãos a medir. Este sistema de empréstimo de longa duração de incentivo à mobilidade, desenvolvido pela associação Cicloda com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa, já entregou cerca de 230 bicicletas e há mais de 600 candidatos à espera. “Tem prioridade quem precisa deste meio de transporte para trabalhar ou ir para a escola”, explica Gennaro Giacalone, mecânico no Selim e também responsável pela gestão dos pedidos, que “são muitos, mas faltam bicicletas”, diz. O Selim vive de doações, aproveitando tudo o que é possível, “para entregar uma bicicleta segura e adequada a cada pessoa”. As candidaturas estão abertas a quem vive, estuda ou trabalha em Lisboa, e o empréstimo é feito por um ano, com uma caução simbólica (entre €10 e €30; €50, se for elétrica). Depois desse período, quem não precisar mais da bicicleta, pode devolvê-la e recebe metade da caução. Com nova sede desde meados de setembro, o Selim ganhou mais espaço de oficina, arrumação e loja. Está a decorrer o sorteio de uma bicicleta especial, montada com peças doadas e todo o empenho da equipa. Cada rifa custa cinco euros e, além de se ficar habilitado a ganhar, ainda se ajuda o Selim. R. de São Bento, 246, Lisboa > T. 21 151 5527 > ter 13h30-16h, qui 17h-20h > selim.cicloficina.pt
6. Velo Culture, Matosinhos
Abriram em Matosinhos, junto ao Porto de Leixões, no início de 2012, numa zona onde o público “é interessado e mais dinâmico”, diz Miguel Barbot, consultor, ciclista urbano e um dos fundadores da Velo Culture. “Faz mais sentido estar numa cidade plana, onde há muita gente a andar de bicicleta”, acrescenta. Nesta loja, dedicada à cultura de velocípedes, há modelos urbanos, feitos para durar e com design clássico, e todo o tipo de acessórios. Ao fundo, encontra-se a oficina, onde tratam da montagem e da reparação de “biclas”, e oferecem mão de obra vitalícia a clientes. O restauro e a personalização são outras vertentes do negócio, que fazem a oficina “andar a todo o vapor”, porque “não há lugar para acumular trabalho.” Na loja, encontram-se várias marcas de bicicletas clássicas (a partir de €300), como a britânica Pachley, feita à mão, e, por encomenda, as elétricas personalizáveis da belga Achielle, as dobráveis da Brompton, as finlandesas de “estética skater” da Pelago, e a Capri Berlim, campeã de vendas na Velo Culture. Trata-se de um investimento a longo prazo, uma vez que “são bicicletas que passam de geração em geração e praticamente não avariam”, garante Miguel. Além de permitirem, escreva-se, viver a cidade ao ritmo certo. R. Álvaro Castelões, 46A, Matosinhos > T. 22 938 0506 > seg-sáb 10h-18h
7. Sub 954, Porto
É para dar vida nova a bicicletas antigas que Tiago Pereira passa os dias na Sub 954. “Gosto de mecânica, do desafio, de desmontar e de recuperar as peças”, diz, enquanto troca uma câmara de ar. Tudo começou com a venda online de um modelo antigo. Com as muitas ofertas recebidas, Tiago percebeu que este poderia ser um assunto sério. Comprou depois um lote de 100 bicicletas velhas, restaurou-o e nunca mais parou. Da adolescência guardava algumas noções de mecânica de velocípedes, que ele foi aperfeiçoando. “Nunca pensei viver disto, mas o negócio foi crescendo e acabou por tornar-se profissão.” Primeiro, num armazém subterrâneo e, desde 2013, no rés do chão de um prédio, onde restaura, compra e vende bicicletas clássicas e peças. São modelos dos anos 70 e 80 (a partir de €120), na sua maioria nacionais (Órbita, Vilar, Esmaltina) e francesas, entre pasteleiras, bicicletas de cidade ou de estrada, e choppers. Todas à espera de irem passear, outra vez. R. Oliveira Monteiro, 884, Porto > T. 91 085 0473 > seg-sex 10h-12h30, 14-19h, sáb 10h-13h
8. BEEQ
Feitas para durar, com design moderno e boa autonomia. Assim se apresentam os cinco modelos (até ao final do ano vão surgir mais dois) da Beeq, a marca de bicicletas elétricas portuguesas, desenhadas e produzidas em Vila Nova de Gaia. Criada em 2020, esta é a primeira marca da RTE, uma das maiores fábricas da Europa, centrada na montagem de velocípedes e na produção de componentes. Sem intermediários, ao nível da distribuição ou do comércio, esta bicicleta só está disponível na sua página oficial. “A venda direta permite preços mais competitivos, garantia de fiabilidade e qualidade”, diz Bárbara Rodrigues, gestora da marca. Disponível em quatro cores, e com autonomia de bateria entre os 40 e os 150 quilómetros, a Beeq tem uma versão para uso diário na cidade, para trekking (transporte de carga) e de montanha. Estão disponíveis para teste, num dos parceiros espalhados por todo o País. beeq-bicycles.com