Há largos anos que Mercedes Cerón, arquiteta e a comandante desta NAVE artística, queria ter um lugar que servisse de escritório, mas estivesse também de portas abertas para o exterior. Encontrou-o numa sossegada rua do Príncipe Real (sim, ainda existe), em duas salas contíguas, onde em tempos funcionou uma gráfica. Com a ideia já bem cimentada na cabeça, montou um projeto algo diferenciador. “É um espaço expositivo, onde quero promover alguns artistas emergentes, recebê-los, ter uma interação maior com cada um. Diria que não é o modelo de galeria clássico.” Além das exposições, tem várias peças à venda, fruto de um acervo que tem vindo a construir nos últimos tempos e sobre o qual gosta de contar sempre alguma história.
Das janelas envidraçadas, avistam-se três secretárias: a de Mercedes, a de Diogo Conceição, seu marido, que faz produção gráfica e com quem já dividia o escritório na zona da Avenida da Liberdade, e a de Ana Maria Sobreiro, a trabalhar em soluções de luz. Uma tripulação que, desde meados de maio, se habituou aos olhares curiosos de quem passa na rua e de quem entra. “Quando pensámos no nome, há um ano, para mim, que sou de Madrid, fez-me sentido, porque o significado de nave em espanhol é algo como pavilhão industrial, armazém”, explica.
A NAVE é, então, um lugar de convergência de artistas. “Eu vou aos ateliers, eles passam por cá, trocamos umas idiotices se for preciso. Quero também que seja um espaço de purga, porque ser artista pode ser um processo muito doloroso”, sublinha. Já recebeu os trabalhos da espanhola Fátima Moreno, por exemplo, e a partir de 19 de setembro, por ocasião da iniciativa Bairro das Artes, inaugura a exposição da artista Branca Cuvier, que vai apresentar novos trabalhos de escultura. A agenda já está fechada até março de 2020, sobretudo com escolhas da própria Mercedes, que faz por conhecer os artistas com quem trabalha.
Neste caminho de curadoria, recebem também clientes particulares que desejem comprar arte. “Fazemos essa curadoria de objetos de design que temos aqui. São todos eles peças de autor, algumas primeiras edições, e são, sobretudo, peças diferenciadoras.” Da sua formação e trabalho em arquitetura, e numa conversa que passa também pela integração de arte em edifícios, surge ainda a vontade de ligação entre as diferentes áreas, num percurso que gostava de desenvolver na sua NAVE: “Não faz sentido ter as artes em conflito”, remata.
NAVE > Trav. do Noronha, 11 B, Lisboa > 21 137 4840 > seg-sex 12h-19h, sáb 15h-20h