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Alberto Perazza, filho do fundador da Magis e atual CEO da empresa italiana, sentado na cadeira Sam Son, desenhada pelo designer Konstantin Grcic
Lucília Monteiro
Na história da Magis, destacam um objeto muito simples, o Nuovastep, um escadote. No lançamento, em 1984, foi desprezado, mas tornou-se o primeiro produto de êxito da empresa. Foi um pequeno passo que se tornou tremendo para a Magis?
Devemos muito a esse escadote, tal como a outras pequenas peças que fizemos no início, como as vassouras Magò, o escorredor de louça Dish Doctor e, especialmente, a garrafeira Bottle, o primeiro produto a ser desenhado para a Magis por Jasper Morrison, que foi um êxito comercial tremendo e, mais do que isso, recebeu vários prémios e faz parte de coleção permanente de vários museus do design do mundo. São peças que representaram pontos de viragem na Magis. E tal, como o Nuovastep, quando foi lançado, não tiveram logo uma boa aceitação.
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O Nuovastep, o escadote com design de Andries e Hiroko van Onck, foi um dos primeiros êxitos da Magis
Às vezes os objetos necessitam de tempo?
Claro que sim. Sobretudo, quando são inovadores e esse grau de inovação não é logo percecionado pelo mercado, precisa de algum tempo para os digerir. Às vezes, no processo de desenvolvimento de um produto, temos de ter em conta que um projeto pode falhar. Isso já aconteceu no passado da Magis, principalmente porque somos uma empresa que sempre quis experimentar novos materiais e tecnologias. Quando se puxa os limites, temos de aceitar que, por vezes, podemos falhar. Se queremos ser inovadores, temos de correr riscos.
Têm essa reputação, de risk takers. O que move a empresa?
Em primeiro lugar, o design. Ao mesmo tempo, a combinação entre os materiais e a tecnologia. Não reparamos muito no que fazem as outras companhias. Podemos olhar para o passado, mas não com uma abordagem nostálgica. Apreciamos o trabalho de mestres e vemos como as coisas podem ser feitas hoje, com as tecnologias e materiais da atualidade. Na Air-chair [também com design de Jasper Morrison], um dos nossos maiores êxitos de vendas, a tecnologia de moldagem por injeção a gás com que foi feita já existia, mas nunca foi utilizada no fabrico de objetos estéticos. Fomos a primeira companhia a utilizar esta tecnologia no fabrico de uma cadeira.
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A Air-chair, com design de Jasper Morrison, é um dos maiores êxitos de vendas da Magis
Descreveram o seu pai, Eugenio Perazza, como “um homem de negócios que faz perguntas claras sobre o design, capazes de dar uma parte significativa da resposta”. A empresa gosta de manter uma relação de proximidade, intensa, com os designers. É fácil criar esta relação, principalmente com os designers-estrela?
Sim, é fácil. O que torna a Magis diferente é o facto de estar envolvida no processo de design, apesar de não desenharmos nada internamente. A maioria das ideias são cultivadas internamente e depois transmitidas aos designers. Depois do briefing, continuamos muito envolvidos e acompanhamos cada passo. É um processo pingue-pongue. O controlo do processo, com absoluto respeito pelos designers, é algo que a maioria aprecia. De facto, os melhores projetos foram aqueles que resultaram de um processo de desenvolvimento em que unimos forças, entre os designers, a Magis e todos aqueles que estão nos bastidores. Somos particularmente bons a construir equipas. Nunca tivemos uma fábrica, sempre subcontratamos a nossa produção a uma rede direta de parceiros, cada um com a sua especialidade a nível de tecnologias e de materiais. E ainda operamos desta maneira. Isto dá-nos a possibilidade de ir em diferentes direções. Essa frase sobre o meu pai diz muito. Gostamos de estar em constante diálogo com aqueles com quem trabalhamos. O design é um trabalho coletivo. Trabalhamos com muitos designers, não só com os mais célebres, alguns deram os primeiros passos na Magis.
Mantêm parcerias longas com alguns designers. O que faz a relação resultar ao longo dos anos?
Não interessa muito se o designer é célebre ou não, a sua origem… se se encaixa na filosofia na empresa e se é possível fazer a relação crescer, neste diálogo e troca de ideias constante. Somos abertos à discussão e esta pode ser dura, porque sentimos que, em benefício do produto, é preciso alguma mudança. Se a química resulta, é ótimo.
Diria que a ideia de prazer está sempre subjacente aos vossos produtos?
É o prazer e a relação que se estabelece com os produtos, no sentido em que, se temos uma cadeira e se, por qualquer razão, deixamos de a usar, sentimos falta dela. Tem a ver com a forma como vemos o design. Não é um exercício de estilo, audaz ou barulhento, é mais uma ideia, os materiais e a tecnologia por detrás dos projetos.
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Chair One, desenhada por Konstantin Grcic, em 2003
Tornar-se um clássico é uma ambição?
Definitivamente. Mas quando fazemos alguma coisa que não estamos a projetar como será daqui a 30 ou 40 anos. Não somos uma companhia que siga modas, os nossos produtos são feitos para durar vários anos e a maioria deles passaram o teste do tempo. Algumas das cadeiras que fazemos hoje, amanhã serão clássicos e isso deixa-nos muito orgulhosos. Quando introduzimos a Chair One [desenhada por Konstantin Grcic], em 2003, sabíamos que era uma cadeira diferente e pensamos que haveria lugar para ela no futuro. E isso aconteceu. De certa forma, já é um clássico.
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O Puppy, com design de Eero Aarnio, foi uma das primeiras peças para crianças criadas pela Magis