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Mário João
Foi há muito, muito tempo, mas Maçainhas (a uma dezena de quilómetros da Guarda) já viveu da produção dos cobertores da lã das suas ovelhas. Reza a história que o Marquês de Pombal quis fazer daquelas terras frias um polo de produção têxtil – e se o Marquês quis, assim se fez. Hoje, na aldeia, já só resta uma fábrica. Uma a uma, as portas foram-se fechando. Só José Freire, filho de Artur, não desistiu. Pegou na fábrica que o pai abrira em 1966 e foi à luta. Chegou a estar de teares parados e um stock para vender como pudesse. Mas, no meio das desgraças, há sempre boas notícias e, agora, os seus cobertores estão à venda no Chiado, na nova loja de A Vida Portuguesa.
Na esquina que já foi muitas coisas (o seu último inquilino foi a Ponto das Artes, embora a “versão mais bonita”, diz a dona, Catarina Portas, tenha sido a loja Marimekko), há cobertores de Maçainhas para vários gostos. Ao seu lado, as mantas Mantecas, da serra da Estrela. Tudo bem arrumado nas prateleiras que, durante décadas, ocuparam as paredes da drogaria da D. Vininha, em Paço de Arcos. D. Vininha foi despejada, e, como Catarina não quis deixar morrer aqueles móveis, trouxe-os para o Chiado, como prova de que “é possível preservar a vida quotidiana da cidade.”
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Na parede da nova loja A Vida Portuguesa não estarão mais de dez, mas o catálogo terá 400 modelos de lanternas e a fábrica Maciel ainda pode criar outros, ao gosto do freguês. Em breve, também vai ser possível contar a história do regresso dos mestres Rufino e Ernesto à escola de ofícios.
Na nova loja, Catarina Portas tem a roupa de casa que não cabia na loja Rua Anchieta (a umas centenas de metros) e que o público procurava. De resto, tem um pouco de tudo: andorinhas, chocolates, cortiça e ferro, serviços de mesa, papelaria e muitos outros clássicos, como as peças da Bordallo Pinheiro, a pasta medicinal Couto, os sabonetes Ach Brito, Confiança ou Benamor… Mais do que fazer parte do roteiro da saudade, explica Catarina, fazem parte da identidade do País.
O que aqui se destaca, porém, e que (por ora) não existe em mais lado nenhum, são as lanternas de latão da Maciel, a fábrica que sobreviveu a três guerras, mas sucumbiu não à crise e à falta de encomendas, mas “à lei do arrendamento”, conta Margarida Gamito, a sétima na cadeia de sucessão da empresa, que quer fazer renascer a fábrica (e a escola de ofícios) das cinzas.
A Vida Portuguesa > R. Ivens, 2, Lisboa > T. 21 007 9536 > seg-sáb 10h-20h, dom e feriados 11h-20h