O desafio, lançado pelo chefe de cozinha Vítor Adão, não tinha como condição ser-se apreciador de whisky, nem tão-pouco um grande conhecedor. Aliás, sobre estes jantares especiais, que só acontecem mediante reserva antecipada no Plano, no bairro lisboeta da Graça, saberíamos apenas que envolviam comida e… whisky, pois.
Confirmada a nossa presença, no dia combinado, sentámo-nos à mesa do restaurante, prontos para experimentar o menu especial criado para combinar com sete dos oito novos whiskys escoceses acabados de lançar pela Diageo, o maior fabricante de bebidas destiladas do mundo, com sede em Londres.
À nossa frente, em cima do individual, estava um caderno e uma caneta para tirar notas, e um jarro de água. Por companhia, na sala da garrafeira, tínhamos alguns curiosos (tal como nós) pelo resultado daquela combinação arriscada e original. Entre eles, estava Honório Oliveira, embaixador das marcas de luxo da Diageo em Portugal, um expert neste mundo dos destilados e responsável pelo que viria a transformar-se numa verdadeira aula.
Todos os anos, desde 2001, que a Diageo lança estes whiskys únicos. Esta nova coleção, dizem-nos, chama-se Legends Untold e é composta por oito whiskies – a Portugal, chegam apenas 12 garrafas de cada um, que estão à venda na Garrafeira Nacional, em Lisboa. Entre estes, encontra-se o Oban 12 anos, considerado o melhor do mundo em 2021 pelo site UPROXX – The Culture of Now.
Sem demoras, chega o primeiro whisky da noite, o Mortlach 13 anos, servido em doses de dois centilitros (tal como todos os outros, ao longo do jantar). Ao contrário do vinho, não se deve balançar o copo porque faz “soltar o álcool”, explica Honório Oliveira. E eis que alguns dos presentes (onde nos incluímos) param de fazer este movimento.
Ainda antes nos servirem a cabeça de xara com maionese e pickle de cenoura (deliciosa, acrescente-se), a plateia (nem todos apreciadores desta bebida) fica a saber que cerca de 70% do whisky produzido na Escócia é oriundo de Speyside, onde é feito aquele Mortlach, precisamente. “É a região que tem mais destilarias”, afirma Honório, acrescentando que o perfil deste whisky é frutado, com notas de maçã, pera e algum caramelo. “No fundo, são os mais suaves e fáceis de beber”, resume.
A esta altura da refeição, perguntamos para que serve o jarro de água e, mais uma vez, a resposta é clara e precisa: “Dependendo do momento da noite, e do gosto de cada apreciador, o whisky pode ser bebido em cocktails, com gelo ou diluído com água, à temperatura ambiente. Os mais puristas defendem que deve ser bebido ao natural e sem qualquer outra bebida adicionada”. Neste jantar, o embaixador da Diageo sugere que se vá acrescentando alguma água, ajudando a suavizar os whiskys “mais duros e fumados.” E, no momento de saborear, nota-se a diferença.
A acompanhar o Cardhu 14 anos, da região de Speyside, apresenta-se a abóbora hokkaido, puré de abóbora-menina, espuma de queijo e molho de anis (e, mais uma vez, o chefe recebe elogios generosos). O jantar prossegue com o mil-folhas de batata, chips de batata e creme de batata com papada pensado para o Oban 12 anos, o whisky mais premiado da noite. Neste prato, Vítor Adão usa um dos seus produtos preferidos, a batata da sua terra, Chaves, trabalhada em várias receitas e texturas. De volta ao copo, tentamos descobrir, ou reconhecer, as suas caraterísticas: no nariz, alga comestível crocante, sal cristalino e pimenta-preta, entre outras notas; e, no paladar, notas frutadas, levemente cítricas e doces, um pitada de sal, picante…
Com o jantar a meio, é a vez de apresentar-se o foie gras com compota de cebola e pão brioche. A sugestão é acompanhada pelo Singleton of Glendullan 19 anos, com aromas doces de figo seco, damasco e casca de laranja sobre um rico maçapão e bolo de baunilha. A seguir, o chefe Vitor Adão anuncia: “Vamos beber um dos meus whiskys preferidos da noite, o Talisker, um dos mais intensos, e que acompanha com a presa de porco com cogumelos morilles, jus de tutano e ovo a baixa temperatura.” Já o embaixador da Diageo acrescenta: “Costumam ser whiskies muito minerais e muito salgados, pois a destilaria fica mesmo em cima do mar.” E deixa uma sugestão: “Se o diluirmos um bocadinho, torna-se mais picante.” E, claro, todos seguimos o conselho.
Com o último prato, o guloso cabrito de Murça assado, batata, grelos e arroz, veio o Lagavulin 12 anos, um dos mais fumados. A refeição termina com o pão-de-ló de batata com queijo da Serra e o último whisky da noite, o Royal Lochnagar 16 anos. Um jantar desafiante, no mínimo.
Plano > R. da Bela Vista à Graça, 128, Lisboa > T. 93 340 4461 > seg-dom 19h-24h, sex 12h30-15h30 > €200, inclui pairing de whisky, mediante reserva prévia
Tal como os vinhos, os whiskys têm caraterísticas distintas. Dos mais frutados aos mais fumados, eis os whiskys da nova coleção Special Releases 2021 Legend Untold, servidos durante o jantar
1º Mortlach 13 anos, da região de Speyside, 55,9%. Barris de carvalho americano virgens e de segundo enchimento. €199,50
2º Cardhu 14 anos, da região de Speyside, 55.5%. Envelhecido em barris de carvalho americano usados, com acabamento em barris de vinho tinto. €174,90
3º Oban 12 anos, da região das Highlands, 56.2%. Envelhecido em barris de carvalho americano recém tostado.
4º Singleton of Glendullan 19 anos, da região de Speyside, 54,6%. Envelhecido em barris usados de carvalho americano, com acabamento em barris de conhaque. €199,90
5º Talisker 8 anos, da Ilha de Skye, 59,7%. Barris de segundo enchimento extra fumados. €127,50
6º Lagavulin 12 anos, da Ilha de Islay, 56,5%. Envelhecido em tonéis de carvalho americano de segundo enchimento. €179.90
7º Royal Lochnagar 16 anos, da região das Highlands, 57,5%. Envelhecido em tonéis de carvalho americano e de carvalho francês de segundo enchimento. €295
8º Lagavulin 26 anos, da Ilha de Islay, 44,2%. Envelhecido em tonéis novos de carvalho americano avinhados com vinhos generosos Pedro Ximenez e Oloroso. €2395 (apesar de não constar da lista dos whiskies servidos neste jantar, está incluído nesta nova coleção)