Marcos Borga Repórter Fotográfico

No Contra, olhar para o prato dos outros é boa educação

Do ceviche ao bife tártaro, a missão do restaurante aberto recentemente na Doca de Santo Amaro é deixar de fora conceitos pretensiosos – e servir pratos bem-feitos, com ingredientes de qualidade

Mariana Almeida Nogueira Jornalista

Marcos Borga Repórter Fotográfico

Ainda o comboio leva os últimos pendulares para a Margem Sul, já a Doca de Santo Amaro começa a encher-se lentamente. O Sol desceu no horizonte, as luzes da Ponte 25 de Abril iluminam o passeio, mas não tanto como uma presença familiar, sobre a porta do restaurante Contra.

De braços abertos, qual sereia à proa de um barco, está Maravilha, a escultura em forma de mulher, pintada com quadrados coloridos e que por tantos anos abraçou Lisboa a partir do terraço do Rio Maravilha, na LX Factory.

A nova casa assenta-lhe bem; partilham as mesmas cores garridas e o mesmo espírito irreverente. As paredes estão cobertas de cartazes com frases que sugerem, por exemplo, que “olhar para o prato dos outros é boa educação”, o rés do chão tem um balancé que lembra os dias despreocupados da infância, e há uma vontade grande de deixar lá fora a necessidade de ideias demasiado elaboradas. “Não somos Contra por acaso.

O conceito é a qualidade e fazer bem sem esquisitices. Escolhemos pratos de que gostamos e decidimos que faríamos a melhor versão possível dos mesmos”, explica Manuel Bonneville, um dos quatro sócios do restaurante.

Escolhemos pratos de que gostamos e decidimos que faríamos a melhor versão possível dos mesmos
manuel bonneville

A qualidade chega à mesa pelas mãos de Raphael Santos que, tal como Maravilha, se mudou da LX Factory para a Doca de Santo Amaro. Para começar, há um couvert (€2,20) em que o pão de carvão ativado respeita uma receita criada para o restaurante. Segue-se o ceviche com peixe do dia (€10,20) ou, para os amantes de carne, o Tartare à Tuga (€9,60). Há ainda polvo grelhado com arroz do mesmo (€16,50) e croquetes vegetarianos (€5,60), que sabem surpreendentemente a farinheira. Para adoçar a boca, nada como o 3C’s, uma combinação de chocolate, caramelo e gelado de chocolate.

A acompanhar a refeição, há cocktails de autor, como o Barbie (€6,50), à base de gin de framboesa, ou o Solero, com gin, manga e ginger beer

Da varanda do primeiro andar, a vista estende-se até ao Cristo-Rei que devolve o abraço a Maravilha. A doca está adormecida, a água embala os barcos e a música, as conversas. É uma noite de outono que sabe a verão, a boa comida e à vontade de voltar já amanhã. Até porque, de quinta a sábado, há DJ set.