Na cozinha, atrás do balcão, estão seis refugiadas sírias: duas Fátimas, Fatem, Rana, Reem e Shiraz cortam a salsa, o tomate, a cebola e a hortelã para prepararem o tabbouleh, a que acrescentarão bulgur e que será servido mais tarde (€4). Em seguida, cozinham o estufado de lentilhas e bulgur com cebola caramelizada para o Mujaddara, um prato típico do país que deixaram para trás. Sem pausas, continuam a testar os petiscos que servirão aos clientes do Mezze, o restaurante que abriram nesta terça-feira, 19, no Mercado de Arroios, em Lisboa, batizado com a palavra árabe para “petisco” ou “entrada” – e completamente gerido por um grupo de dez refugiados sírios, com a orientação da Associação Pão a Pão.
“Mais do que um restaurante, o Mezze será a segunda casa e o ganha-pão de uma família refugiada da Síria, que chegou a Portugal há cerca de dois anos, fugida da guerra”, explica a jornalista Francisca Gorjão Henriques, que, em 2016, fundou esta associação com Rita Melo, Nuno Mesquita e Alaa Alhariri. A integração de refugiados sírios, sobretudo de mulheres e de jovens, na sociedade portuguesa é uma das principais missões deste projeto que teve início com jantares pontuais no Mercado de Santa Clara e com serviços de catering.
Às mesas, hão de chegar pratos do Médio Oriente, como o Baba ganoush (€4), feito com puré de beringela assada com tahini, xarope de romã e especiarias e o hummus de pasta de grão cozido com tahini (creme de sésamo). Ou, ainda, o Kebseh, arroz fumado com pimentos, o Meshaw de borrego (espetadas), a sopa de lentilhas e os Kibbeh, uns bolinhos fritos de carne de vaca, bulgur e especiarias. A carne halal de borrego e frango será a única a ser usada no Mezze, respeitando o processo de matança de acordo com o ritual islâmico. São cinco, os menus, compostos por quatro pratos cada um, sempre acompanhados por fatias de khubz (pão sírio). “Se uma mesa não tiver pão, não está completa. É o mais importante na refeição”, diz o jovem Rafat, filho da cozinheira Fátima, a quem cabe a tarefa de servir às mesas e de traduzir os pedidos, de português para árabe, para a cozinha. A ele junta-se Bilal, que dará apoio na sala e na esplanada. Já Yasser será o padeiro responsável por fazer o pão khubz, no sahj (uma espécie de panela).
De Luís Barradas, a equipa do Mezze recebe consultoria: “Estou aqui para ajudar nas regras de higiene alimentar, ensinar a fazer inventários, preencher formulários e encomendas”, diz o chefe que descreve esta como “uma cozinha fresca, com base mediterrânea, que usa nas suas receitas o alho, a cebola, o azeite e a salsa, misturada com especiarias, xarope de romã, bulgur, entre outros produtos do Médio Oriente”. Sabores de longe que encontraram em Lisboa uma nova casa.
Para gerir o restaurante Mezze, o grupo de refugiados fez formação durante um mês na Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa. Rafat, um dos elementos desta equipa, estagiou ainda no restaurante Bairro do Avillez, do chefe de cozinha José Avillez.
Mezze > Mercado de Arroios > R. Ângela Pinto, 22, Lisboa > T. 21 249 4788 > ter-sáb 12h-24h > menus entre €11 e €15