O açúcar e a margarina já estão dentro da amassadeira quando chegamos à cozinha da fábrica da Confeitaria Nacional, que mudou de instalações há seis anos para uma rua sossegada de Campo de Ourique, em Lisboa. A ação principal passa-se em duas salas, onde estão os fornos, as mesas de trabalho e os ingredientes necessários para a preparação dos doces e bolos de natal – e não só. A seguir, o pasteleiro Aníbal Nobre, 58 anos, junta o fermento e a farinha devidamente pesadas. E, ali ficam às voltas durante 25 minutos nesta grande máquina que tem capacidade para amassar cerca 180 quilos desta mistura doce que resultará em bolos-rei.
Depois deste processo, há que deixar descansar este preparado entre 10 a 12 horas para levedar. Em cima da mesa está um alguidar gigante com frutos secos (nozes, passas e pinhões) e fruta cristalizada (pêra, figo, abóbora, laranja), denunciando a tarefa seguinte na preparação deste bolo tradicional consumido entre o Natal e o Dia de Reis. Por fim, a massa é cortada em pedaços mais pequenos (de 1 kg, 2kg, o peso que se pretender) e dá-se a forma circular.
Seguem-se 15 minutos na estufa, onde ficará para a massa crescer no calor. O pasteleiro José Carlos Babosa, 42 anos, há 26 na Confeitaria Nacional, termina o processo. Antes de ir ao forno a 165 graus, onde ficará durante 30 minutos, é preciso moldar melhor o bolo e pincelar com ovo. “É, definitivamente um dos bolos mais trabalhosos que fazemos”, garante.
Há 42 anos que Aníbal Nobre trabalha na Confeitaria Nacional, empresa fundada em 1829, por Balthazar Roiz Castanheiro. O seu dia de trabalho começa à meia-noite, e nesta altura do ano, estica até perto do meio-dia. “São precisas umas horas extras para garantir que nada falta nas prateleiras da Confeitaria Nacional”, diz. Nesta altura, Aníbal e a equipa de pasteleiros de serviço trabalham sem parar.
O bolo-rei ocupa quase todas as bandejas que se veem na cozinha. Enquanto uns estão a ser preparados, outros vão para dentro dos fornos e caixas. “O maior bolo-rei que já fiz pesava nove quilos”, recorda Aníbal Nobre, que, nesta época, prefere comer uma fatia de tronco de Natal ou uma broa de espécie (feita com pão), como nos revelará mais tarde.
Destas cozinhas saem também troncos de Natal, bolos-rainha, lampreias e outros doces tradicionais desta quadra festiva. Mas é o bolo-rei o mais procurado, sim: nos três ou quatro dias antes do Natal são vendidos cerca de 1500 por dia. A Nacional orgulha-se, aliás, de ter trazido a receita de Paris para Portugal, quando a confeitaria abriu. “Desde essa altura que se trabalha com a mesma receita”, assegura Aníbal Nobre.
Depois de uma pequena viagem de carrinha até ao número 18 da Praça da Figueira, na Baixa, os bolos-rei chegam ainda quentes à casa mãe da Confeitaria Nacional. Estão prontos para serem levados para casa ou para serem comidos, à fatia, logo ali. E, nesta época, não há mesmo mãos a medir para acudir a tantos pedidos. Viva o rei.
Confeitaria Nacional > Pç. da Figueira, 18, Lisboa > T. 21 324 3000 > outros pontos de venda: Cais de embarque junto à Torre de Belém, Doca de Alcântara, Aeroporto de Lisboa e quiosque no Amoreiras Shopping Center > Bolo-rei €2 (fatia), €19,95 (kg); Bolo-rainha: €23,75 (kg); Broas (castelar, de milho e de batata-doce) €19,95 (kg); Sonhos €1,25 (unidade), €22,50 (kg); Rabanadas €1,20 (unidade); Azevias €1,20 (unidade); Lampreia de ovos €22,95 (kg)