Sou um admirador do jornal Libération, fundado em 1973 por Jean-Paul Sarte, que ainda hoje se mantém na vanguarda do jornalismo francês. Provavelmente nunca Sartre, frequentador com Simone Beauvoir do café Flore, no Boulevard de Saint Germain des Prés, em Paris, previu que o seu jornal algum dia viesse a dedicar páginas e páginas aos prazeres da mesa e do copo. Mas é o que acontece desde há anos para cá. No plano enófilo, à sexta-feira Olivier Bertrand publica as suas duas colunas Falemos de vinhos, onde nos conta histórias dos atores da vinha e da adega. São as melhores crónicas de vinhos que conheço.
O Libé também inclui suplementos sobre vinhos ao longo do ano, como sucedeu a 10 de setembro com um caderno dedicado às mulheres com o seu “novo olhar sobre o vinho”.
Não foi por isto que esta edição desencadeou uma enorme polémica em França, mas por ter reprovado em toda a sua primeira página o facto de o patrão da Louis Vuitton pedir a nacionalidade belga presumivelmente para fugir ao imposto extraordinário de 75% sobre as grandes fortunas.
O patrão da Vuitton, que repudiou esta acusação, é o homem mais rico de França e o quarto no mundo, contando no seu espólio com a casa de champagne Moet & Chandon, o conhaque Henessy e o Chateau d’Yquem. No bar Wine by One, em Paris, o Yquem de 1996 estava nesse dia a ser vendido a copo a €22, a €44 e a €88. A garrafa desta colheita ronda os €250. No mesmo bar vendia-se o tinto Mouton Rotschild 2001 a €23, €46 e €92 o copo, consoante a sua capacidade, sendo que a garrafa andará pelos 475 euros.
O Mouton de Rothschild “proletarizou-se” e hoje este grupo comercializa vinhos dos €9 aos €43, de que aqui vos damos nota:
Agneau Bordeaux Rosé ***/**** – €12
Rosé bonito à vista, com sabores frescos e frutados.
Berger Baron Bordeaux 2010 ***/**** – €9
Tinto resultante do trio Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc
Mouton Cadet Reserve Pauillac 2005 **** – €15
Um tinto com uma boa relação qualidade/preço.
Chateau d’Armailhac Pauillac 2006 **** – €43
Bem recortado e harmonioso.