1. PELA REGIÃO DO DÃO
O tempo não está de feição. A chuva do dia anterior suspendeu a vindima que tinha começado há dias, em Santar, pequena localidade junto a Nelas.
A terra dos 103 hectares de vinha de onde saem vinhos como o Casa de Santar, Colheita Tardia, Condessa de Santar e Conde Santar, entre outros está alagada e é preciso esperar que a chuva acalme. Apesar disso, não há motivos para preocupações. “As uvas estão no momento exato. Este tempo até as favorece”, afiança Pedro de Vasconcellos e Souza, administrador e enólogo da Sociedade Agrícola de Santar, integrada no grupo Globalwine/Dão Sul, que produz vinhos desde 1790. Da centena de homens e mulheres que cortam os cachos, apenas meia dúzia arrisca a meteorologia e atira-se a um talhão de vinha (de casta de uva branca), integrada na maior propriedade particular da região vitivinícola do Dão, situada a 450 metros de altitude entre o Caramulo e a Estrela. “As caixas onde são colocadas as uvas são abertas para escorrer a humidade, o sumo e a terra”, explica o enólogo. Normalmente estão duas pessoas de cada lado das videiras. Vão dispondo os cachos nas caixas que serão depois levadas nos tratores até à adega. Até final de setembro, os dias estão por conta das uvas, desde manhã cedo até o Sol começar a cair. Há mais de 30 anos que Maria da Conceição se entrega à vindima de corpo e alma. Literalmente. De corpo porque “é um trabalho cansativo, anda-se sempre na mesma posição o dia inteiro, agachada”. De alma porque já não se vê a passar sem ela.
“Gosto de tudo, principalmente do convívio. Conversamos muito uns com os outros. Falamos de tudo. É a época mais bonita.” As tesouradas nas videiras são intercaladas com música, ao género dos cantares ao desafio. “Umas puxam pelas outras, vamos inventando quadras.” Como esta: Quando olho para a videira/Dá-me vontade de rir/Os cachos já estão maduros/Outros estão a florir, atira Maria da Conceição, 46 anos, a mais desinibida do grupo. E continua: Não te encostes à parreira/Que a parreira deita pó/ Encosta-te ao meu peitinho/Sou solteira e vivo só. A vindima “é feita com pessoas da região que a fazem ano após ano”, conta-nos o enólogo.
É o caso de Assunção, 54 anos. Desde os 11 anos que anda a vindimar. “Era onde ganhava o dinheiro para comprar os livros da escola”, conta. Hoje, apesar de haver uma parte já mecanizada, é este ambiente de convívio que se vive ao longo deste mês. Daí que o enólogo Pedro de Vasconcellos e Souza defenda: “O vinho é história. Quando estamos a beber um Encruzado, por exemplo, ele está a contar-nos como foi esse ano, se as vinhas eram altas ou baixas, se o clima era fresco…” No dia 24, a Casa de Santar abre portas a quem pretenda conhecer as vindimas ao vivo. O dia começa com um pequeno-almoço no Paço dos Cunhas de Santar (uma antiga casa agrícola com mais de 400 anos, com um restaurante de autor) e uma visita aos jardins seculares. Parte-se depois para a vinha, de tesoura em riste. Escutam-se histórias e músicas de tempos idos, com direito a um piquenique gourmet ao almoço.
À tarde, o programa inclui uma visita ao Palácio e aos jardins da Casa de Santar (€45/ pax). Os mais destemidos podem ainda participar num winecatching, uma espécie de caça ao tesouro entre as vindimas (€65/pax). Se não tiver disponibilidade para este dia, pode visitar a Casa de Santar (na família há 13 gerações) durante todo o ano, um solar do século XVII e XVIII com jardins centenários, onde ainda vive a Condessa de Santar, Maria Teresa Lencastre de Mello, prestes a fazer 83 anos.
CASA DE SANTAR Av. Viscondessa de Taveiro, Santar T. 232 942 937 Programa 24 Set, Sáb: €45 Visitas à casa: Ter-Sáb 11h, 15h www.daosul.com
2. A TRADIÇÃO NA VILA MUSEU DO VINHO
Na vila de Aveiras de Cima, freguesia do concelho de Azambuja, a ligação ao mundo do vinho é estreita, quase umbilical durante todo o ano e, como não podia deixar de ser, também o é em época de vindima.
A forte ligação da terra à vinha e ao vinho vem de longe, prova disso é a arquitetura singular de muitas casas com duas portas de entrada, uma para a habitação e outra para adega, e a presença de muitas adegas e tabernas ao longo das ruas. Foram estas características que levaram à implantação de um projeto único, em abril de 2010, transformando Aveiras de Cima em Vila Museu do Vinho. Esta iniciativa original visto o espaço expositivo ser a própria vila permite efetuar visitas orientadas cumprindo um circuito que passa pelo centro de interpretação, pelas ruas, adegas e tabernas, ficando a conhecer as tradições e os segredos da vinha e do vinho da região. E se estas visitas podem ser feitas em qualquer altura do ano, já em época de vindima há um programa especial, que permite aos visitantes terem contacto e participar nesta tarefa tão importante do ciclo do vinho. Assim, nos próximos três fins de semana (10-11, 17-18, 24-25 Set) é possível, a convite dos vitivinicultores de Aveiras de Cima, passar um dia a vindimar em uma das várias adegas envolvidas na iniciativa: Acácio, António José Ferraz, José Luís, José Cunha, José Mata e Vinhos Caridosa.
O programa (€25/pax), com várias atividades levadas a cabo ao longo de quase todo o dia, inclui ainda dois apetrechos importantes, o chapéu e a tesoura de vindima. A jornada tem início às nove da manhã na vinha, onde já munidos de chapéu e tesoura de vindima, é explicada a primeira tarefa: o processo de apanha da uva.
Segue-se o transporte da uva para o lagar e a tão aguardada pisa feita ainda nos moldes tradicionais, dando assim direito a entrar no tanque e a esmagar os bagos de pés descalços. Ao meio-dia prepara-se o almoço. Graças ao kit Torricado aprende-se a confecionar este prato típico na vinha, como faziam, antigamente, os trabalhadores vitícolas. Sobre as brasas torra-se uma fatia grossa de pão, esta é depois esfregada com alho, barrada com azeite e polvilhada de sal, e acompanha com uma posta de bacalhau assado. Já com o estômago aconchegado, é tempo de rumar para a última atividade, a visita ao Centro de Interpretação da Vila Museu e a prova de vinho, conduzida pelo enólogo da Adega Agrobatoréu, e onde aprenderá alguns conceitos básicos. Na memória, ficam guardados os cheiros, os sabores e as tradições de outros tempos.
AVEIRAS DE CIMA -VILA MUSEU DO VINHO Reservas T. 263 400 476 (posto de turismo) Programa: €25/pax c/ chapéu, tesoura de vindima, almoço, prova de vinho e uma garrafa de vinho. Mínimo obrigatório dez pessoas
3. ENOTURISMO À MEDIDA
A Vitis Route é um projeto de João Carvalho, um apaixonado pela vinha e pelo vinho, que “desenhou” algumas propostas na área do enoturismo, assente no potencial turístico da zona de Alenquer. Entre os programas predefinidos existem o Vitis Route e o Vitis Cultura.
O primeiro consiste na visita guiada a quintas históricas do concelho (Quinta do Lagar Novo, Quinta do Carneiro e Quinta de Nossa Senhora do Convento da Visitação). Durante esta experiência são-lhe explicados alguns temas relacionados com a vinha, as castas, os solos, a vindima e a poda.
Depois da visita à vinha segue-se uma ida à adega. Existe ainda a possibilidade de incluir almoço conjugando a gastronomia com o vinho. O Vitis Cultura acrescenta um périplo por alguns espaços do património de Alenquer (o primeiro convento franciscano de Portugal, por exemplo). Ambos os programas podem ser feitos em três versões (uma, duas ou três quintas). Existe ainda a possibilidade de fazer um pacote personalizado, onde pode acrescentar a participação nas vindimas ou na poda da vinha, ser viticultor ou enólogo por um dia, aprender a conjugar o vinho com a comida, fazer um piquenique na vinha ou jantar na adega, entre outras opções.
VITIS ROUTE Qt. do Lagar Novo, Alenquer T. 93 309 5817 www.vitis-route.com Pacote Vitis Route (preços s/ IVA) 1 Quinta + 1 Prova: €13,50 (+ 16 pax), €22,50 (até 4 pax) Pacote Vitis Cultura (preços s/ IVA) 1 Quinta + 1 Prova + Centro Histórico: €15 (+ 16 pax), €30 (até 4 pax)
4. ADEGA MAYOR, EXEMPLO DE MODERNIDADE
Na Herdade das Argamassas, em Campo Maior, ergue-se a Adega Mayor, única no País, desenhada pelo arquiteto Álvaro Siza Vieira, um bom exemplo de que a arquitetura moderna também casa bem com o vinho e é, inclusive, um impulsionador do negócio do enoturismo. O edifício minimalista é um marco nesta paisagem vinhateira em pleno Alentejo, tendo o projeto estado presente, em 2010, na exposição How Wine Became Modern, no Museum of Modern Art, nos Estados Unidos. O volume horizontal de linhas modernas e pintado de branco sobressai entre a vinha e o olival da herdade.
A elegância da construção exterior é levada para o interior da adega, onde o design simples mantém o espaço funcional e com todas as valências necessárias ao bom funcionamento da empresa, albergando as áreas de produção (equipada com a mais alta tecnologia), armazenamento e zonas sociais. A sala de provas é no último piso e é também aí que mais uma vez o traço de Siza Vieira surpreende com um agradável terraço panorâmico, relvado e dotado de um espelho de água no centro, com uma vista soberba sobre a vinha e o olival. Ora tudo isto pode ser visto em qualquer altura do ano, no entanto, em época de vindima, a empresa organiza um programa especial, com inscrições a partir de hoje, quinta-feira, 8.
Por esta altura, na Herdade das Argamassas, a apanha da uva ainda se encontra a meio, no entanto, até ao fim de agosto já tinham sido apanhadas 220 toneladas do fruto. E há ainda muito trabalho pelo frente.
Ao realizar um destes programas ficará a conhecer as várias etapas do processo de produção do vinho, a vinha com as 11 castas -sendo as predominantes Antão Vaz, Arinto e Verdelho, para os vinhos brancos e Alicante Bouschet, Aragonês e Trincadeira para os tintos -e o funcionamento da adega, de onde saem anualmente 400 mil litros, produzindo vinhos como Monte Mayor, Adega Mayor -Touriga Nacional, Reserva do Comendador e Garrafeira do Comendador. Produzidos sob a orientação da enóloga residente Rita Carvalho e tendo como consultor o enólogo Paulo Laureano, uma referência na área da enologia, os vinhos da Adega Mayor têm sido galardoados com diversos prémios nacionais e internacionais e referenciados em diversas publicações da especialidade. O último lançamento, de maio deste ano, é um vinho tinto de nome Pai Chão numa homenagem ao Comendador Rui Nabeiro. Feito com uma seleção de uvas das castas Alicante Bouschet e Trincadeira, resulta de uma colheita excecional de 2008. Indicado para acompanhar pratos de carnes vermelhas e caça, também será possível prová-lo e adquiri-lo durante a sua visita.
PROGRAMA 08h30 | Encontro na Adega Mayor Entrega do material de vindima e partida para a vinha: Explicação da técnica de corte dos cachos de uvas, bem como a selecção dos mesmos. Viagem ao mundo das diferentes castas que compõem os vinhos da Adega Mayor Experiência de vindima Regresso à Adega, onde será efectuada uma visita guiada à zona de produção e processo de escolha e transformação das uvas. 12h30 | Piquenique nas Vinhas. Depois de uma manhã de trabalho árduo segue-se uma pausa merecida. Como um verdadeiro alentejano repouse debaixo da azinheira e desfrute da paz do Alentejo. 15h00 | Visita ao Museu do Café Este é um museu diferente e nele pode aprender tudo sobre o processo de produção e a cultura do café. Conta também a história da Delta e do seu fundador, Rui Nabeiro. 16h00 | Visita guiada à Adega. Descobre os recantos da Adega desenhada pelo Siza Vieira. Degustação de Vinhos & Tapas: Prova de 4 vinhos: – Monte Mayor Branco e Rosé ou Tinto – Solista Touriga Nacional – Reserva do Comendador Branco ou Tinto Degustação de Iguarias Regionais da Selecção Mayor: Azeitonas DOP, Queijo de Ovelha em Azeite, Charcutaria, Pão Alentejano & prova de Azeites. # O programa Vindima está previsto para 10 participantes no mínimo e até 25. # A realização deste pack está programada durante o período das vindimas (entre meados de Agosto ao final de Setembro) e a sua realização está dependente das condições atmosféricas.ADEGA MAYOR Herdade das Argamassas, Campo Maior T. 268 699 440 www.adegamayor.pt
5. DE COMBOIO ÀS VINDIMAS
A CP alia-se habitualmente à época das vindimas e preparou um programa para os fins de semana de 11, 18, 24 de setembro e 1 de outubro a pensar naqueles que se deslocam à região do Douro. A viagem parte do Porto (Estação de Campanhã) rumo à Régua, com destino à Quinta de Campanhã onde se visita a adega e a produção de vinho. Um almoço regional e uma lagarada fazem parte do programa (€49, €29/4-8 anos).
+ SUGESTÕES
A NORTE
CASA DA INSUA No coração do Dão, a Casa da Insua convida a participar nas vindimas no próximo sábado, 10. A atividade inclui a apanha das uvas, o carregar das caixas para os lagares de granito e a pisa feita de forma tradicional. O programa (€55/pax) termina com uma prova de vinhos. Se decidir pernoitar (€133/pax) terá ainda direito, no dia seguinte, a uma visita guiada à quinta e queijaria. Penalva do Castelo T. 232 642 222 www.casadainsua.pt
ENOTECA DO DOURO QUINTA DA AVESSADA Neste projeto de enoturismo, nascido há quatro anos, conta-se a história do famoso moscatel de Favaios através de uma visita a um museu erguido numa antiga adega e num antigo armazém de máquinas agrícolas. Nesta altura assim como ao longo do ano o programa das vindimas é o mais procurado (€55). Inclui o corte das uvas entre os vinhedos (uma vasta área plana), o transporte para o lagar ao som de cantares tradicionais do Douro, uma prova de vinhos assistida por enólogos, almoço regional e o tradicional pisar da uva no lagar (as lagaradas) ao som das concertinas. R. Direita, 26, Favaios, Alijó T. 259 949 289 www.enotecadouro.com
QUINTA NOVA NOSSA SENHORA DO CARMO Situada entre o Pinhão e a Régua, nas encostas do Douro vinhateiro, a Quinta Nova organiza, até final de setembro, o programa Vindimas à Porta. Entre os socalcos da vinha, conte com apanha da uva e uma winetour com prova de vinhos (€45/pax; €14/5-12 anos). R. de Meladas, 380, Covas do Douro T. 22 747 5400 www.quintanova.com
QUINTA DO PANASCAL Sobranceira ao rio Távora e datada do século XVIII, é uma das propriedades mais importantes da casa Fonseca Guimaraens. O programa “Fui ao Panascal à Vindima” inclui um áudiotour ao longo dos vinhedos e prova de vinhos de Porto Fonseca: Siroco, BIN n.° 27 e Terra Prima acompanhados por amêndoas tostadas, além da observação das vindimas na vinha e lagares. Inclui um almoço típico: sopa da roga, arroz de feijão com pataniscas, leite-creme (€33,20/mínimo 10 pessoas) Valença do Douro T. 254 732 321, 22 374 2800 http://quintadopanascalvisitorscentre.wordpress.com
QUINTA DO PORTAL Dispõe de dois programas (com e sem alojamento na Casa das Pipas e Casa do Lagar). De manhã, cortam-se as uvas, seguindo-se um almoço. A tarde é preenchida com uma prova de vinhos e uma visita à adega e ao armazém de envelhecimento de vinhos da autoria de Siza Vieira, que venceu, este ano, o prémio Arquitetura do Douro. Um jantar gourmet antecede a tradicional lagarada (a partir €55). Celeirós do Douro, Sabrosa T. 259 937100 www.quintadoportal.com
A SUL
BACALHÔA VINHOS DE PORTUGAL EN 10, Vila Nogueira de Azeitão T. 21 219 8060
CARMIM R. Prof. Mota Pinto, Reguengos de Monsaraz T. 266 508 280
CARTUXA -FUNDAÇÃO EUGÉNIO DE ALMEIDA Estr. da Soeira, Évora T. 266 748 380
CASA ERMELINDA FREITAS R. Manuel João de Freitas, Fernando Pó, Águas de Moura T. 265 988 000/995 171
ERVIDEIRA Herdadinha, Vendinha, Reguengos de Monsaraz T. 266 950 010
HERDADE DA MALHADINHA NOVA Albernôa, Beja T. 284 965 210
HERDADE DO ROCIM EN 387, Cuba T. 284 415 180
HERDADE DOS GROUS Albernôa, Beja T. 284 960 000
JOÃO PORTUGAL RAMOS Vila Santa, Estremoz T. 268 339 910
JOSÉ MARIA DA FONSECA Qt. da Bassaqueira, Azeitão T. 21 219 7500
MONTE DA RAVASQUEIRA Arraiolos T. 266 490 200