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Teatro do Bairro
R. Luz Soriano, 63, Lisboa T. 21 347 3358/9. Mais informações em www.teatrodobairro.org.
Quando me aproximei da entrada do novo Teatro do Bairro, localizado no Bairro Alto, em Lisboa, cruzei-me com várias pessoas com rostos cansados que se movimentavam em diversas direções, com passos apressados. A minha presença, no meio daquela azáfama, transformava-me num género de rotunda que era necessário contornar para evitar acidentes.
Comecei a duvidar da simplicidade da minha visita: “Como vou pedir a estas pessoas, visivelmente tão ocupadas, alguns momentos de atenção, sem que isso me ‘custe’ olhares desaprovadores?” Mas nem o excesso de trabalho e as poucas (ou quase nenhumas) horas de sono foram suficientes para lhes roubar a boa disposição – principalmente aos responsáveis pelo projeto, ao produtor Alexandre Oliveira e ao encenador António Pires. Em vez de receber olhares intimidatórios, fui recebida entre brincadeira e gargalhadas.
Um edifício com história
Onde agora reside o novo Teatro do Bairro (aberto desde o passado dia 3), explorado pela produtora de cinema e de teatro Ar de Filmes, funcionaram, há muitos anos, as rotativas do extinto Diário Popular. A sua transformação num teatro, em vez de num condomínio de luxo ou hotel, foi, por isso, bem recebida (e desejada) pelos moradores daquela zona.
O edifício, propriedade da Interpress – Sociedade Distribuidora de Jornais e Revistas, Lda., estava abandonado, mas os proprietários há muito que esperavam a chegada de um inquilino especial, preferencialmente ligado à Cultura. Quando Alexandre Oliveira e António Pires, responsáveis pela Produtora Ar de Filmes, apresentaram o seu projeto a que deram o nome de Teatro do Bairro, não restaram dúvidas aos “senhorios”. E avançaram-se com as obras.
Em conversa com Alexandre Oliveira, ficamos a conhecer melhor esta produtora, que existe há mais de 10 anos, mas foi a entrada há quase sete do encenador residente António Pires que motivou a “procura de um espaço na cidade, onde de certa forma ancorássemos o nosso trabalho”. “É um “projeto de continuidade da Ar de Filmes. Agora temos um espaço. É dar uma morada a uma identidade artística”, acrescenta o encenador.
Sobre o local: “Sabemos que é especial e diferente de todos e por isso consideramos importante que também fosse uma casa que acolhesse pessoas que partilhassem a nossa linha artística.” Por isso quiseram dividir a direção artística, juntar as três instituições que consideram musicalmente mais simbólicas da cidade: o B.leza, na música africana (atuações todas as primeiras sextas de cada mês), a Mesa de Frade, que quebra com o lado museológico do fado, mais ligado a esta nova geração (são os responsáveis pela animação, todas as segundas sextas-feiras de cada mês) e o Hot Clube de Portugal, que vai preencher as terceiras sextas de cada mês. Os concertos estão agendados para as 23 horas e terão um consumo obrigatório.
Para lá da programação musical, vai existir sempre um espetáculo teatral central que irá preencher as noites de quarta a sábado (a sala tem uma lotação de 110 lugares).
Atualmente está em cena a peça Vida de Artista, que nasce de um desafio que fizeram à escritora Luísa Costa Gomes para escrever um texto que falasse dos actores em Portugal, em 2011. O resultado final é um texto divertido (uma comédia…) que mostra por um lado o trabalho e a vida real dos artistas, mas, por outro, revela-nos como se constrói um espetáculo. Em palco estão Adriano Luz, Manuela Couto, Margarida Vila-Nova. Após esta peça que vai estar em cena até dia 26, António Pires quer “abençoar este teatro com um Shakespeare, por isso vamos levar à cena a peça Sonho de uma noite de Verão”.
Mas a vasta programação não se esgota nestas duas expressões artísticas. Aos domingos é o dia do cinema, organizado pela Zero em Comportamento, com várias sessões ao longo do dia (manhãs infantis e tardes e noites para um público mais adulto).
Falta mencionar o projeto assinado pelo arquiteto Alberto Sousa Oliveira, que tinha como missão principal preservar o cariz industrial desta arquitetura. Mas também a de criar um espaço o mais notável possível, que combinasse com as diferentes manifestações artísticas e que funcionasse como um género de black box, ou seja, que primasse pelo apagamento da sua decoração. Após 9 meses de obras, eis o novo teatro da cidade.
Mesa de Frades
Quem frequenta a Mesa de Frades, em Alfama, reconhece que é um espaço alternativo. Nesta casa canta-se pelo prazer, seja de fato e gravata, xaile, ou até mesmo de calças de ganga. Pedro de Castro, não quis abrir uma casa de fados tradicional, iguais a tantas a funcionar na capital. Por isso fez uma lista das “coisas” que não gostava nelas. E isso incluía o tradicional chouriço assado e a sopa de caldo verde, o ambiente formal e os avultados preços. Agora, a Mesa de Frades desloca-se todas as segundas sextas-feiras de cada mês até ao Teatro do Bairro. O elenco inclui atuações de Ana Sofia Varela, Joana Amendoeira, Pedro Moutinho, Rodrigo Rebelo de Andrade, Ricardo Ribeiro e Tânia Oleiro.
B. Leza
Madalena Saudade, um das responsáveis pelo B.Leza, responde às nossas questões. O que esperam vir a conquistar com esta aliança? Desde logo, reconhecemos, na base deste projeto um conceito muito interessante: aliar, no mesmo sítio, várias expressões artísticas como o teatro e a música. O B.leza, embora com predominância na oferta da música ao vivo, sempre procurou dar espaço e promover outras artes. Este é, pois, um conceito que nos é próximo e que nos faz querer e gostar de participar.
Pelo que sei, vão garantir as primeiras sextas-feiras de cada mês, o que é o público pode esperar? A música ao vivo é a marca do B.leza. Contaremos sempre com um espetáculo e, ainda, com um dj criando um ambiente festivo e informal.
Hot Clube Portugal
Esta mítica casa fundada em 1948 (considerada o mais antigo clube de jazz do País) por Luiz Villas-Boas, e que tem como missão ensinar e divulgar a música jazz, está a aguardar uma nova “casa” após um incêndio ter destruído, na madrugada do dia 22 de dezembro de 2009, as antigas instalações na Praça da Alegria, em Lisboa. Enquanto as portas da nova residência não abrem, não perca, nas terceiras sextas de cada mês, as suas atuações no Teatro do Bairro.