Para muitos portugueses as viagens para fora do País tinham, quase sempre, um destino implícito: visitar uma loja Muji e satisfazer um dos seus desejos mais simples comprar um “caderninho Muji”, de capa sépia, sem fantasias nem acessórios desnecessários, apenas o tamanho ideal e prático para “tomar notas” e transportar na algibeira. A partir da próxima semana (ainda sem data marcada, já que as obras se atrasaram), vai poder fazê-lo em Lisboa, na Rua do Carmo (nos números 63-75), no Chiado.
Comprar os úteis (e viciantes, até) cadernos, as mil e uma canetas, o material de escritório, a roupa feita de matérias orgânicas, os produtos de beleza, os utensílios de cozinha, os móveis minimais, os brinquedos, os artigos de viagem, em suma, alguns dos objetos mais surpreendentes e funcionais que há cerca de 30 anos tornaram a expressão “simple life” uma certeza.
Muji, fundada no Japão em 1980, é a abreviatura de Mujirushi Ryohin (produtos de qualidade sem marca). Começou com a produção de 40 produtos, atualmente existem mais de 8 mil que tentam responder aos princípios básicos com que tudo começou: desenho funcional, os produtos e a sua função é o que importa; boa qualidade a preços razoáveis.
Hoje com 460 pontos de venda espalhados pelo mundo (320 só no Japão), foi em 1990 que iniciaram a sua expansão fora de portas, estendendo-se a outros países como Reino Unido, França, Itália, Suécia, Espanha, Turquia, EUA, China, Taiwan, Coreia do Sul, Tailândia e Singapura.
Mas deixemos, por momentos, os produtos de lado, porque a Muji é muito mais do que uma loja (e a de Lisboa vai ter 300m2, distribuídos por dois pisos!) é uma filosofia de vida, baseada nos princípios para um mundo mais sustentável. E Portugal, sejamos claros, há muito que a merecia. Jordi Puig, director-geral da Muji Ibéria, é o responsável pela sua chegada à capital portuguesa: “As lojas Muji e os seus produtos têm muito êxito nas grandes cidades cosmopolitas. Por essa razão ‘desembarcamos’, em Lisboa, concretamente no bairro do Chiado, onde encontramos uma tipologia de gente para quem o desenho e a qualidade não é indiferente.” Se esta é a altura certa, o tempo o dirá: “A nossa empresa tem um plano de expansão na Península Ibérica que contempla Lisboa, desde o início. Mas o começo da crise económica obrigou-nos a atrasar um pouco o ritmo de aberturas estabelecido inicialmente. Mas Lisboa, tal como o Porto, fizeram sempre parte no nosso plano de expansão.” A qualidade e a estética japonesas chegarão aqui pouco antes do Natal. Podemos considerar este acontecimento um presente, sem grandes laços nem papéis coloridos a embrulhá-lo. Os tempos não estão para isso, de facto, mas se há coisa que a Muji se orgulha é de, além de criar produtos bem desenhados, funcionais, simples, que fogem da banalidade, praticar preços justos.
E isso consegue-se, também, retirando-lhes o que supérfluo. E a loja lisboeta, ampla e central, será tão inspiradora como as demais: “Os produtos que teremos na loja de Lisboa são exatamente os mesmos que podemos encontrar nos outros países, à exceção do Japão onde existem lojas de grande formato (algumas com 6 mil metros quadrados), que incluem restauração e a venda de produtos alimentares.
Abarcaremos cerca de 5 mil referências, sendo o espaço a única limitação para que este número seja maior ou menor”, explica-nos Jordi Puig.
A sociedade que irá gerir a Muji no nosso país é a Bracchium Retail Portugal, propriedade das famílias espanholas Puig (que detêm as marcas Carolina Herrera, Nina Ricci e Paco Rabanne) e Andreu (com interesses nos setores do imobiliário, náutico e concessionários de automóveis). Certeiros neste investimento, muito diferente das griffes atrás descritas. Afinal, “o que significa para si, Jordi, a marca Muji?” “O seu conceito baseia-se na apreciação cuidadosa de materiais, na eficácia dos processos de produção e na simplificação da embalagem.
‘Mujirushi Ryohin’, tal como era originalmente conhecida, significa ‘produtos de qualidade sem marca’. O valor dos produtos Muji está naquilo que eles são e não em quem é responsável pelo seu design. Por isso, os produtos Muji nunca são visivelmente assinalados como sendo marca Muji.” Simples, não é?