A propósito do seu novo livro, “Energiza-te”, Alexandra Vasconcelos, farmacêutica, naturopata e pós-graduada em medicina biológica integrativa, explicou à VISÃO o papel que as mitocôndrias desempenham na nossa sensação de cansaço.
A autora de vários livros na área da saúde e envelhecimento saudável quer colocar o cansaço em perspetiva. A causa para esta sensação e a falta de energia tem um nome: mitocôndria, um organito presente em cada célula do corpo que desempenha um papel central na regulação metabólica e produção de energia.
“Todos as manifestações de cansaço, física ou psicológicas, resolvem-se identificando a verdadeira causa e atuando sobre ela. Existe sempre desgaste mitocondrial”, refere a autora à VISÃO.
E não é por ir de férias, por exemplo, que o problema se resolve por si só. “O cansaço pós-férias é um fenómeno real, pois a maioria das situações de fadiga não passa com descanso e as pessoas vêm frustradas das férias. Neste meu livro, enfatizo diversas vezes a necessidade urgente de identificar a causa”, diz. “Na maioria das vezes existe uma doença na mitocôndria que deve ser tratada para evitar o surgimento mais tarde de patologias sistémicas mais graves”.
Pode perguntar-se se mais horas de sono podem ajudar nesta tentativa de diminuir esta condição, mas, segundo Alexandra Vasconcelos, “o sono pode não ser rejuvenescedor porque a fadiga está relacionada com desequilíbrios mitocondriais. Mesmo dormindo muitas horas, se as mitocôndrias não estiverem a funcionar corretamente, o corpo não consegue recuperar e acordamos cansados. O grau de fadiga é diretamente proporcional à doença mitocondrial”, explica.
A especialista acrescenta que “a fadiga cronica está relacionada com a disfunção mitocondrial, também conhecida como cansaço metabólico ou celular e indica que algo não está bem no organismo”.
Quais são os agressores mitocondriais?
É fundamental entender o que prejudica a mitocôndria, tanto os agressores externos como os internos. Ou seja, pensar não só nos tóxicos provenientes do ambiente onde estamos inseridos, mas também na forma como o nosso organismo consegue dar destino aos tóxicos que se produzem internamente, em consequência de processos metabólicos endógenos normais.
À medida que vamos envelhecendo, as nossas mitocôndrias também envelhecem, vão perdendo vitalidade e algumas vão morrendo. Faz parte do processo natural de envelhecimento, por isso ao longo dos anos vamos perdendo a vitalidade e ficamos mais cansados. Pensa-se que aos 40 anos a capacidade mitocondrial reduz-se para metade e que aos 70 anos temos metade da capacidade energética dos 40 anos. Então imagine que, entre os 40 e os 70 anos, a capacidade de trabalho e o número de mitocôndrias são reduzidos para metade. As mitocôndrias presentes são mais fracas, danificadas, disfuncionais e menos capazes de produzir energia. Entre os 20 e os 40 anos, acontece sensivelmente o mesmo, por isso, jovens com 20 e 30 anos podem sentir fadiga se se associar dano mitocondrial à perda natural da capacidade mitocondrial.
Neste livro vai aprender a aumentar as suas mitocôndrias, a melhorar a qualidade do seu sono, a minimizar o impacto negativo do stress no cérebro, obter indicações precisas para eliminar agentes agressores, como tóxicos provenientes do ambiente, alimentação, parasitas, desequilíbrio intestinal, alteração da produção dos metabolitos e das bactérias. Todos estes fatores inflamam o seu corpo e afetam a saúde da mitocôndria e o seu desempenho, ou seja, a produção de energia.
No esquema seguinte, deixo-lhe um resumo dos principais agressores da mitocôndria. Estes agressores funcionam como triggers (pontos gatilho) do modo de sobrevivência que vimos anteriormente e remetem para o funcionamento cuja produção energética faz apenas face às necessidades básicas de sobrevivência do organismo.
De acordo com o esquema, a falta de nutrientes vitais na nossa dieta é um dos principais fatores que danificam a mitocôndria. Comemos muito mais, pior e no final resulta em mais défice de nutrientes.
Porquê? Porque optamos por comida de plástico cheia de tóxicos e substâncias falsas que o nosso organismo não reconhece como nutrientes e nem sabe bem que destino lhes dar.
Não conseguindo livrar-se da maioria destes tóxicos, a nossa maquinaria metabólica simplesmente encosta estas substâncias em órgãos, tecidos e por todo o lado. Mas, apesar de arrumadas, estas substâncias continuam a inflamar-nos.
As toxinas bloqueiam as mitocôndrias e levam ao aumento do stress oxidativo e à libertação de espécies reativas de oxigénio (ERO), que tem como primeiro impacto a alteração na transferência de eletrões, o que danifica a estrutura das membranas e provoca a libertação de substâncias tóxicas. É claro que a mitocôndria afetada morfologicamente comprometerá o seu trabalho e haverá uma diminuição da produção de energia.
Se há desequilíbrio, ou seja, a exposição aos agressores é maior do que a capacidade de defesa, a sua mitocôndria funcionará em modo de sobrevivência, que é o que não queremos.
A RETER
Há muitos fatores que adoecem a mitocôndria.
PARA PENSAR
Se a inflamação crónica e a disfunção mitocondrial são a causa de doenças crónicas, autoimunes, degenerativas e da imunossenescência, porque não tratamos a mitocôndria?
A BOA NOTÍCIA
É possível renovar as nossas fábricas de energia de forma a triplicar a nossa vitalidade.
O QUE FAZER
Ajustar o nosso estilo de vida à nossa genética e incluir hábitos que protejam e revitalizem as mitocôndrias.
Como manter a mitocôndria saudável?
Para manter a nossa mitocôndria saudável, temos essencialmente que pensar em três aspetos:
- Retirar tudo o que lhe faz mal e a agride.
- Mimá-la dando-lhe tudo o que necessita de forma a reverter a disfunção (veremos na Parte 2).
- Identificar quem vive dentro de nós e nos rouba energia.
São sete os passos essenciais que temos de seguir para ter uma supermitocôndria:
- Eliminar os microrganismos patogénicos e as toxinas.
- Respeitar os ciclos da vida.
- Reprogramar o corpo e a mente.
- Tratar o intestino e o microbioma.
- O que comer para ter vitalidade e ganhar energia.
- O que suplementar para ter uma supermitocôndria.
- Equilibrar as hormonas e os neurotransmissores.
Técnicas rápidas para melhorar a capacidade mitocondrial
▶ Alternância entre frio e calor. Por exemplo, banho frio depois de fazer exercício ou do banho quente.
▶ Exercício físico com alternância de ritmos (HIIT – treino intermitente de alta intensidade).
▶ Técnicas respiratórias são ótimas ferramentas para restaurar a fadiga e o desempenho cerebral.
▶ Como estas práticas regulam o sistema nervoso, nomeadamente o equilíbrio entre o sistema nervoso simpático e o parassimpático*, falarei delas detalhadamente na Parte 3 deste livro.
*Responsável pelas ações espontâneas do corpo, como a respiração, os batimentos cardíacos, a digestão, o controlo da temperatura corporal, entre várias outras funções, administradas pelos sistemas simpático (o que entra em ação) e parassimpático (o que manda parar a ação).
Porque a energia é a chave central tanto para o sucesso como para a felicidade, nos próximos capítulos vamos saber exatamente como podemos aumentar a nossa energia e deixarmos de sentir cansaço.
A RETER
Existem duas causas básicas de fadiga:
1 – Ambientes externo e interno adversos.
2 – A mitocôndria entra em modo off.
PARA PENSAR
Tenho a certeza de que o segredo para a felicidade é ter energia!
A BOA NOTÍCIA
A mitocôndria tem de ser produtiva, mas para isso é necessário tratá-la bem, aumentando a capacidade de o organismo num todo lidar e proteger-se dos seus agressores. Aumentar a resiliência e a adaptabilidade é o grande objetivo e é possível.