Um novo estudo, realizado por investigadores da Universidade Rovira I Virgili, em Tarragona, Espanha, concluiu que os alimentos ultraprocessados (UPF, na sigla inglesa) que os mais novos consomem podem estar a colocá-los em maior risco de desenvolverem, na idade adulta, problemas como ataques cardíacos, acidentes vasculares cerebrais (AVC) e diabetes, por exemplo.
Para a realização da investigação, a equipa analisou dados de mais de 1400 crianças entre os 3 e os 6 anos, de escolas de sete cidades espanholas. Entre 2019 e 2022, os cuidadores destas crianças tiveram reuniões presenciais com a equipa e foram instruídas a preencher questionários com dados sobre a atividade física, alimentação e outros dados demográficos.
Tendo como base a quantidade de alimentos ultraprocessados que ingeriam, a equipa dividiu os dados das crianças em três grupos diferentes e percebeu que aquelas que consumiam mais este tipo de alimentos tinham maior probabilidade de ter fatores de risco como um índice de massa corporal (IMC) mais elevado, pressão arterial sistólica mais alta – um fator de risco significativo para várias doenças cardiovasculares e outras complicações de saúde – e razão cintura-estatura (RCE), usada para avaliar o risco de problemas de saúde relacionados com o excesso de gordura abdominal.
O estudo concluiu ainda que as mães das crianças que ingeriam maior quantidade de UPF eram geralmente mais jovens, tinham um IMC mais elevado e níveis de educação mais baixos. “Em locais onde os alimentos frescos podem ser mais difíceis de obter, os alimentos ultraprocessados são mais acessíveis e baratos”, diz, em entrevista à CNN, Andrew Freeman, diretor de prevenção cardiovascular e bem-estar da National Jewish Health, em Denver, EUA. “Os alimentos ultraprocessados também são ultraconvenientes”, afirma ainda.
Apesar de os investigadores terem identificado uma associação entre a quantidade de alimentos ultraprocessados consumidos pelas crianças e a sua saúde, não conseguem afirmar, neste estudo publicado no JAMA Network Open, que esse consumo leva a problemas de saúde, já que o estudo foi observacional.
Contudo, Nancy Babio, professora investigadora do Institut d’Investigació Sanitària Pere Virgili e principal autora do estudo, afirma que este estudo ajuda a promover a “substituição de alimentos ultraprocessados por alternativas mais saudáveis, tais como opções não processadas ou minimamente processadas, num esforço para prevenir futuros problemas de saúde cardiometabólicos nas crianças”.
Em declarações à CNN, Stuart Berger, cardiologista pediátrico e membro da Academia Americana de Pediatria, refere ser essencial termos atenção à quantidade de UPF que damos às crianças mais pequenas, já que a forma como se alimentam em idade precoce terá impacto nos seus hábitos alimentares ao longo da vida. O médico diz ainda que é mais fácil escolher opções mais saudáveis para os mais novos quando as crianças são mesmo pequenas.
“Se pudermos fazer algo para criar um estilo de vida saudável desde cedo, existe uma hipótese razoável de podermos eliminar as síndromes metabólicas mais tarde, como a diabetes, a obesidade e todas as complicações associadas à diabetes e à obesidade” defende.
Os UPF são produtos alimentícios que passaram por múltiplos processos industriais, muitas vezes contendo ingredientes artificiais, aditivos e pouco valor nutricional. O alto teor de açúcares, gorduras saturadas, sódio e a presença de aditivos são caraterísticas comuns nesse tipo de alimentos, sendo associados a preocupações relacionadas com a saúde quando consumidos em excesso.