Teranóstica: o nome parece estranho, mas, na prática, este é um conceito muito comum, aplicado à medicina, e que resulta da conjugação de um teste de diagnóstico com um tratamento. “Ambos se dirigem para o mesmo alvo, alvo esse que corresponde, na maior parte das vezes, a uma molécula que se expressa, de forma espontaneamente aumentada, nas células de um determinado tipo de doença”, explica à VISÃO Gracinda Costa, Diretora do Serviço de Medicina Nuclear da Unidade Local de Saúde de Coimbra.
No fundo, o teste de diagnóstico permite identificar a molécula alvo, que servirá de base para a atuação do tratamento. Desta forma, o tratamento só será utilizado caso o teste de diagnóstico demostre a efetiva expressão do alvo.
A teranóstica é especialmente relevante no campo da medicina nuclear. Neste contexto, refere-se à utilização de radiofármacos para fins terapêuticos e diagnósticos. “É um conceito que está muito desenvolvido na área da medicina nuclear, que se carateriza pela utilização de medicamentos que incorporam elementos radioativos, denominados radiofármacos, que podem ser usados no âmbito do diagnóstico ou da terapêutica”, explica a especialista. Neste campo, “muitos dos radiofármacos para tratamento também emitem radiação que permite obter uma imagem do próprio tratamento”, acrescenta.
“É possível obter informação valiosa acerca dos locais onde o radiofármaco está a atuar, o tempo que permanece nas lesões que se pretende destruir ou controlar e o potencial risco para órgão ou tecidos normais”, afirma ainda Gracinda Costa, acrescentando que “este conceito está perfeitamente alinhado com a medicina personalizada”, já que “oferece o tratamento certo, para o doente certo, no momento certo” e com a dose indicada, permitindo fornecer “uma terapia mais direcionada e eficiente”.
“Apenas iremos tratar os doentes com doença que exprime o alvo, poupando os outros doentes a intervenções terapêuticas fúteis, ineficazes no controlo da doença, que apenas se iriam associar a efeitos secundários”, exlica a especialista.
Como e quando surgiu a teranóstica?
Embora o termo teranóstica tenha sido utilizado pela primeira vez por John Funkhouser em 1998, este princípio tem sido utilizado pela medicina nuclear desde 1941, ano marcado pela primeira utilização de iodo radioativo (Iodo-131) em patologias relacionadas com a tiróide.
Na prática, os doentes candidatos a tratamento com radiofármacos precisam de realizar um exame de diagnóstico que permita avaliar a expressão do alvo. A Tomografia por Emissão de Positrões, mais conhecida por PET, é, de forma geral, o exame que melhor permite fazer essa avaliação.
“É um exame não invasivo, sem efeitos secundários, realizado cerca de 60 minutos após a administração endovenosa do radiofármaco que se vai ligar ao alvo em avaliação”, refere Gracinda Costa. “A imagem corporal, que demora 20 a 40 minutos a adquirir, é determinante na decisão de utilizar o radiofármaco terapêutico. Na ausência de contraindicações, a boa expressão do alvo nas lesões torna o doente elegível para o radiofármaco terapêutico, que se vai fixar no mesmo alvo”, acrescenta.
A etimologia da palavra explica na perfeição o seu significado: “tera” de terapêutica + “gnóstica” de conhecimento ou diagnóstico.
Em que tipos de doenças a teranóstica pode ser útil? Em Portugal é comum?
“Embora a teranóstica em medicina nuclear possa ser aplicada em diversas áreas da medicina, é na oncologia que se tem vindo a revelar mais útil”, explica a especialista. Nesta área, destaca-se o cancro da tiróide, o cancro da próstata e os tumores neuroendócrinos.
Em Portugal, já se usa a teranóstica em medicina nuclear há várias décadas, em vários serviços “É expectável que mais serviços de medicina nuclear a venham a disponibilizar num futuro próximo, melhorando a oferta disponível em termos assistenciais”, afirma a médica.
E ao nível da investigação, esta área também está em constante crescimento, garante. “Estamos a assistir a uma verdadeira revolução nesta área. São vários os modelos de teranóstica em desenvolvimento, que passam pela identificação de um bom alvo tumoral e pela síntese de moléculas marcadas com elementos radioativos para diagnóstico e para tratamento”, explica Gracinda Costa.
“Estão também em franco desenvolvimento os equipamentos, assim como métodos de processamento e quantificação de imagem que permitirão otimizar as terapêuticas, aumentando a sua eficácia com segurança”, remata.