Atacar o problema num ponto mais precoce e não tanto após surgirem os sintomas, como é prática terapêutica comum. Ou, por outras palavras, atuar mais na prevenção do que nas consequências do estreitamento repentino das vias respiratórias que caracterizam a asma. Em síntese, é esta mudança de paradigma no tratamento que passa agora a estar em cima da mesa, depois de cientistas do Reino Unido, de Espanha e dos Estados Unidos da América terem descoberto uma causa com grande impacto na “engrenagem” da doença: a degradação e morte de células específicas nos pulmões, provocadas pelos ataques de asma, que deixam vulnerável a barreira protetora do trato respiratório e o tornam susceptível a novas inflamações – a origem de mais crises e uma espécie de ciclo vicioso, por vezes fatal.
“Pudemos observar que a constrição física de um ataque de asma causa uma destruição generalizada da barreira das vias respiratórias”, explica Jody Rossenblatt, coautora do estudo – divulgado na quinta-feira, 4, na revista científica Science -, num comunicado da King’s College London, onde leciona. “Sem esta barreira, os pacientes de asma têm muito mais probabilidade de desenvolver inflamação de longo prazo, problemas de cicatrização e infeções que provocam mais ataques”, detalha a especialista em biologia celular. “Ao percebermos este mecanismo fundamental, estamos agora em melhor posição para prevenir todos estes acontecimentos.”
Doença inflamatória crónica dos brônquios, caracterizada por sintomas como falta de ar, tosse seca, aperto no peito ou cansaço ao mínimo esforço, sabe-se que resulta da obstrução dessas ramificações nos pulmões, em resultado de alergias, infeções virais ou sinusite, por exemplo. No entanto, as causas não são totalmente compreendidas, daí que a maior parte das terapêuticas incidam no combate à inflamação, nomeadamente através de medicamentos para dilatar as vias respiratórias. Em Portugal, afeta cerca de um milhão de pessoas.
A grande mais-valia da investigação agora revelada é abrir uma nova linha de abordagem aos ataques de asma, a tal constrição do trato respiratório que constitui o principal risco para os pacientes, numa fase anterior à sua manifestação. Os cientistas sugerem que a solução pode estar num tratamento capaz de evitar a destruição das chamadas células epiteliais que garantem a robustez da referida barreira protetora. Para isso testaram com sucesso, em ratinhos de laboratório, uma substância química habitualmente usada nos contrastes durante as ressonâncias magnéticas, chamada gadolínio, cuja eficácia neste processo já havia sido demonstrada em estudos anteriores.
“A constrição e destruição das vias respiratórias provocam a inflamação pós-ataques e o excesso de secreção de muco que torna a respiração difícil para as pessoas com asma”, sublinha Jody Rossenblatt, acrescentando que as terapias atuais não acautelam a proteção das células que parecem desempenhar um papel decisivo. O gadolínio, por seu lado, conseguiu fazê-lo, mas nem tudo são boas notícias.
Segundo outra coautora, a espanhola Elena Ortiz-Zapater, da Universidade de Valência, a toxicidade deste composto químico torna-o desadequado para ser administrado com regularidade em humanos, de modo que é preciso descobrir uma alternativa de igual forma eficaz mas sem os efeitos negativos, adianta ao jornal El País. Para já, está aberto o caminho para, no futuro, se tratar a asma com novas armas.