Quem acompanha páginas de lifestyle e celebridades provavelmente já viu que um dos supostos truques de saúde de algumas estrelas bem conhecidas consiste em beber vinagre de sidra. Kim Kardashian e Jennifer Aniston estão entre as famosas que já admitiram incluir o consumo deste produto como parte das suas dietas, destacando os aparente efeitos na eliminação de gordura corporal e o auxílio na perda de peso.
A propagação destes alegados benefícios do vinagre de maçã, em conjunto com o preço acessível (entre poucas dezenas de cêntimos a cerca de dois euros por garrafa), fez com que muitas pessoas aderissem à tendência, que até tem algum fundamento. Porém, a forma como o consumo é realizado pode trazer perigos.
Os benefícios anunciados
Este género de vinagre é usado há séculos na “medicina” popular. Cientistas e especialistas investigaram os seus benefícios e riscos, com conclusões diversas. Um estudo publicado em 2019 prova que o consumo moderado reduz o nível de açúcar no sangue. A investigação iraniana revelou que quem toma duas colheres de vinagre de sidra diluído num copo de água duas vezes ao dia – uma ao almoço e outra ao jantar – tem uma menor concentração de glicose quando em jejum.
Em 2009, um outro estudo, que avaliou 175 japoneses com peso acima da média e saudáveis comprovou que 12 semanas de tratamento com vinagre feito a partir de maçã ajudava na redução de peso, índice de massa corporal, gordura visceral e triglicéridos. Contudo, os especialistas destacam que estes efeitos só são visíveis se aliados a outros comportamentos que possam auxiliar a perda de peso, como o consumo de água, uma dieta saudável ou a prática de exercício físico.
A crença comum diz que o vinagre de maçã pode ser usado para aliviar a comichão e vermilhão provocada por picadas de insetos, uma convição partilhada pela dermatologista Marie Jhin, porta-voz da Associação Americana de Dermatologia. Segundo a especialista, é preciso mergulhar numa banheira cheia de água, com dois copos de vinagre de sidra diluídos para se sentir os efeitos na pele.
Os riscos do consumo
Embora a literatura científica corrobore os benefícios do vinagre de sidra, há riscos associados à forma de consumo. Para começar, é importante não beber o vinagre puro, mas sempre diluído em água, pois o ácido pode provocar danos, como a corrosão do esmalte, a camada protetora dos dentes, e facilitar o desenvolvimento de cáries. Foi o caso de uma jovem de 15 anos com origens marroquinas que desenvolveu cáries dentárias por beber 237 ml de vinagre de maçã não diluído diariamente pois acreditava que, desta forma, iria perder peso.
Além de danificar os dentes, a acidez do vinagre pode ainda ser prejudicial para a garganta. Um estudo sobre líquidos nocivos que as crianças engoliram acidentalmente revelou que o vinagre de maçã era uma fonte comum de queimaduras nesta zona do corpo entre os mais novos. A acidez pode ainda provocar problemas digestivos, como refluxo e náuseas. Um estudo de 2014 comprovou que as pessoas que bebiam 25g de vinagre por dia tinham menos apetite, o que provocava perda de peso, mas isso só acontecia porque sentiam náuseas e não conseguiam comer.
A National Kidney Foundation, dos EUA, alerta ainda para os perigos deste consumo nas pessoas com doença renal crónica, uma vez que os seus corpos não conseguem processar o excesso do ácido do vinagre, o que pode levar a problemas no metabolismo.
Sobre a utilização do vinagre de sidra em cuidados de beleza, a dermatologista Marie Jhin destaca ainda que este produto não tem evidências de ajudar a combater a acne ou prevenir o envelhecimento, como muitas vezes é divulgado. “Pode ajudar a secar uma borbulha, mas não recomendo. Hoje temos métodos muito mais eficazes e seguros do que o vinagre.”