Um novo estudo publicado na revista Environmental Science and Technology Letters mostrou que ferver água da torneira durante cinco minutos pode reduzir até 90% a quantidade de microplásticos presentes. Os microplásticos através do consumo de água fervida são duas a cinco vezes menos dos que utilizam água de torneira numa base diária.
Esta descoberta é significativa, devido ao aumento crescente de microplásticos nos oceanos, rios, solo, ar, água e cadeia alimentar, que constitui uma ameaça à saúde humana e ambiental. Já no início do ano, um novo estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences revelou que a água engarrafada contém de 10 a mil vezes mais microplásticos do que se estimava.
Segundo a National Ocean Service, os microplásticos são restos de resíduos industriais e bens de consumo plásticos que medem menos de 5 milímetros de comprimento e estão presentes ao nosso redor. Os estudos sobre os seus impactos ainda são limitados e inconclusivos, segundo a World Health Organization. No entanto, alguns estudos realizados em ratos mostram que plásticos como o poliestireno podem matar células, causar inflamação intestinal, reduzir a fertilidade ou ser nocivos para o desenvolvimento fetal.
Beber água fervida é uma tradição antiga que remonta há milhares de anos. É muito mais do que um mero ato de purificação, é uma tradição que atravessa a história da civilização humana em diversas culturas, tendo implicações sociais, culturais e até mesmo religiosas. As evidências arqueológicas sugerem que a prática de ferver água pode ter tido origem na China no 2º milénio a. C., durante a dinastia Shang. O uso de água fervida no Egito Antigo, na Grécia Antiga e na Roma Antiga era principalmente para fins medicinais e religiosos.
O objetivo deste estudo foi apresentar provas de que os microplásticos podem ser eliminados da água da torneira, mas sobretudo incentivar a realização de mais estudos, de forma a criar um hábito saudável de consumo de água a nível global que reduza os riscos de exposição humana a microplásticos potencialmente nocivos. A fervura ou aquecimento da água da torneira é capaz de remover vestígios poluentes como subprodutos de desinfeção e alguns iões metálicos.
Os microplásticos estão presentes na água da torneira pois escapam dos sistemas centralizados de tratamentos de água. A fervura da água é capaz de reduzir os microplásticos, ao causar a formação de incrustações de carbonato de cálcio, semelhantes ao giz, e, à medida que a temperatura vai aumentando, o calcário transforma-se em estruturas cristalinas que encapsulam essas pequenas partículas plásticas. A partir daí, as incrustações podem ser facilmente raspadas e filtradas, e os microplásticos podem ser removidos da água.
Para chegar a estas conclusões, os investigadores analisaram vários métodos caseiros que fossem práticos para remover os microplásticos da água potável. Criaram várias amostras de água da torneira com minerais comuns mas com variações nas suas “durezas”, ajustando-lhes concentrações de carbonato de cálcio, e a estas soluções juntaram três compostos de microplásticos também comuns, como o poliestireno, o polietileno e o polipropileno.
Depois de ferverem as amostras durante cinco minutos, os investigadores deixaram-nas arrefecer e constataram que a quantidade de microplásticos existentes tinha diminuído drasticamente.
O método usado no estudo mostrou uma redução de quase 90% dos microplásticos nas amostras de água mais “duras”. A combinação da fervura e da filtragem com filtro de café é mais eficaz em águas duras do que em águas macias, pois a água dura contém mais carbonato de cálcio, que se torna sólido durante a fervura, captando e retendo as pequenas partículas de plástico no seu interior.
Vários fatores afetam a precipitação de microplásticos durante a ebulição. Os investigadores perceberam que a dureza da água potável varia de forma significativa, o que por sua vez influencia a eficiência da remoção das partículas de plástico, ou seja, a eficiência do processo de redução das partículas de plástico contidas na água depende da quantidade de carbonato de cálcio presente. Ao ferver água que contém 300 miligramas de carbonato de cálcio por litro – água dura – os cientistas observaram uma queda de quase 90% de microplásticos, enquanto que, nas soluções com 80 miligramas de carbonato de sódio, a fervura reduz 34% dos microplásticos; nas soluções com menos de 60 miligramas de carbonato de cálcio, apenas reduz 25% dos microplásticos. Ainda assim, mesmo com água mais macia – com menos carbonato de sódio – a fervura da água pode remover mais de 25% dos microplásticos.
Os cientistas concluíram que a forma mais fácil de remover os microplásticos da água é usar este método juntamente com um filtro de café – que serve para remover o cálcio solidificado. A utilização do filtro por si só ainda não tem evidências científicas suficientes, mas um estudo de 2023 publicado na revista Polymers sugeriu que os filtros de microfiltração, como os filtros de café, podem ser usados para remover ou impedir a passagem de partículas de microplástico.
A combinação de práticas como fervura da água da torneira, utilização de filtros de água e consumo de água de fontes seguras pode ajudar a proteger a saúde humana. Os cientistas também recomendam utensílios domésticos, como chaleiras elétricas e os fogões a gás não plásticos, para ferver a água, devido ao seu baixo consumo de energia e de emissões de CO2.