Um estudo publicado na revista ERJ Open Research veio confirmar que uma dieta à base de plantas ou vegetariana reduz em cerca de um quinto o risco de desenvolver apneia obstrutiva do sono. Por outro lado, comer muita carne e gorduras aumenta o risco de desenvolver a patologia.
A apneia obstrutiva do sono consiste num distúrbio do sono caracterizado por episódios repetidos de interrupção da respiração durante a noite devido à obstrução das vias aéreas superiores. Pode resultar na redução ou interrupção do fluxo de ar, levando a uma diminuição temporária dos níveis de oxigénio no corpo. A pessoa afetada muitas vezes ressona e acorda para retomar a respiração, o que interrompe o ciclo normal do sono.
Os investigadores já tinham observado, em estudos anteriores, que pacientes com excesso de peso, distúrbios respiratórios graves do sono e uma dieta rica em colesterol, proteínas, gorduras totais e ácidos gordos saturados totais tinham o dobro da gravidade da apneia obstrutiva do sono.
Ensaios clínicos também já tinham mostrado que homens com obesidade e apneia moderada ou grave, ao perderem peso e manterem uma dieta saudável reduziram a gravidade da condição; e que doentes reduziram quatro pontos na Escala de Sonolência de Epworth (ESS) ao passarem de uma dieta ocidental para uma dieta à base de vegetais integrais. Mas nenhum estudo até agora tinha realçado a associação existente entre uma dieta à base de plantas e vegetarianas e o risco de apneia obstrutiva do sono.
Segundo a investigação, cerca de mil milhões de pessoas no mundo sofrem desta condição. A apneia obstrutiva do sono está fortemente relacionada com doenças cardiometabólicas, como doenças cardiovasculares, diabetes e depressão. A condição triplica o risco dessas doenças, tornando-a uma preocupação séria para a saúde global. O estilo de vida (dieta, exercício, tabagismo, consumo de álcool e índice de massa corporal) também está associado à apneia.
Uma das opções de tratamento consiste na perda peso, mudanças no estilo de vida, dieta e prática regular de exercício físico. A eficácia da dieta resulta sobretudo da restrição calórica e não na qualidade da dieta.
O estudo baseou-se, em parte, no Inquérito Nacional de Exame de Saúde e Nutrição dos Estados Unidos, que recolheu dados de 14.210 pessoas que facultaram informações 24 horas por dia sobre os alimentos que consumiam e que responderam a um questionário que avaliou a probabilidade de ter apneia obstrutiva do sono. 50,5% dos participantes indicavam um risco intermédio a grave e 25,1% foram classificados como de alto risco para a apneia.
Importante sobretudo para os homens
O objetivo deste estudo foi investigar a relação entre um índice alimentar à base de plantas e o risco de desenvolver apneia, confirmando que uma alimentação saudável à base de plantas reduz a apneia do sono enquanto que uma dieta não saudável aumenta o risco de desenvolver a condição.
Uma dieta à base de plantas tem uma elevada qualidade de nutrientes e uma baixa frequência de consumo de alimentos de origem animal, o que permite um melhor controlo glicémico e regulação da pressão arterial, reduzindo o risco de doenças metabólicas através da perda de peso, que por sua vez estão associados à redução do risco de apneia obstrutiva do sono.
A investigação categorizou grupos de alimentos em “alimentos vegetais saudáveis (cereais integrais, frutas, legumes, frutos secos, leguminosas, chá e café), alimentos vegetais menos saudáveis (cereais refinados, batatas, bebidas açucaradas, doces e sobremesas, alimentos salgados) e alimentos animais (gordura animal, lacticínios, ovos, peixe ou marisco, carne, alimentos animais diversos)”.
Observou-se que participantes que seguiram uma dieta à base de alimentos vegetais saudáveis como frutas, vegetais, grãos integrais e nozes tinham 19% menos probabilidades de ter apneia obstrutiva do sono.
Também foram encontradas diferenças em indivíduos de diferentes sexos. Os homens revelaram ter um risco ainda menor de desenvolver a apneia do sono caso sigam uma dieta saudável à base de vegetais.
Os autores do estudo concluem que os resultados “destacam a importância da qualidade da nossa dieta na gestão do risco de apneia obstrutiva do sono”, “levam a que se considere a reavaliação das recomendações dietéticas, no sentido de dar ênfase a dietas saudáveis à base de plantas, ricas em componentes anti-inflamatórios e nutrientes antioxidantes e com baixo teor de factores alimentares nocivos” e “que os padrões específicos de cada sexo observados exigem intervenções dietéticas mais personalizadas”.