O retrato foi feito hoje à agência Lusa pelo presidente do Fundo de Solidariedade da Ordem dos Médicos (OM), Luís Campos Pinheiro, no âmbito da Conferência “Planeamento da Reforma: oportunidades e desafios”, que decorreu hoje em Lisboa.
O Fundo de Solidariedade foi fundado em 2001 e é financiado com 2% das quotas pagas pelo médicos inscritos na Ordem, tendo como objetivo ajudar os médicos e os seus familiares mais próximos, ascendentes ou descendentes, que estejam com “muita dificuldade financeira”.
Desde então, já apoiou 300 médicos e 20 crianças e jovens filhos de médicos, apoiando atualmente 40 profissionais e duas crianças.
Luís Campos Pinheiro disse que um “grupo importante” dos beneficiários é constituído por “jovens médicos que, por qualquer infelicidade da vida, tiveram um acidente, um traumatismo, e deixaram de poder trabalhar em idade muito jovem”.
Por esta razão, ainda tinham contribuído “muito pouco” para a Segurança Social, tendo por isso “reformas muito baixas”.
“Depois há um grupo que são médicos com doenças psiquiátricas graves e que, por essa razão, foram abandonados pelas suas famílias e vivem como sem-abrigo”, apontou.
Contou que há alguns casos que o Fundo de Solidariedade conseguiu retirar das ruas e dar uma casa, apoio médico e psiquiátrico, para terem “uma vida um bocadinho mais controlada”.
“Há um terceiro grupo que são os descendentes órfãos de médicos que, também por infelicidade da vida, faleceram muito cedo e estas crianças ficam praticamente abandonadas, tiradas de uma família, sem posses”, descreveu o responsável.
Através do seu Fundo de Solidariedade, a Ordem apoia estas crianças para que “possam continuar a sua progressão educacional e acabar o seu curso universitário”.
Fazendo uma análise destes casos, Luís Campos Pinheiro disse que “são situações dramáticas” de pessoas que vivem em pobreza.
Recordou dois casos que foram relatados na comunicação social de um médico com esquizofrenia grave que vivia num jardim, e que a OM conseguiu retirar da rua, e de uma médica que estava no início da sua formação e foi alvejada por um tiro, tendo ficado tetraplégica e sem condições financeiras e com “uma parte social muito difícil”.
“São casos destes realmente dramáticos que temos ajudado e depois há os casos de pessoas que tiveram vidas boas, mas não precaveram o futuro e nem sequer têm coragem de entrar na Ordem dos Médicos”, porque têm “uma grande vergonha para assumir as dificuldades económicas que têm”.
Nestes casos, é a assistente social que vai à procura deles para os ajudar.
Neste momento, há 20 pessoas alojadas em casas que são património da OM e outras em instituições, cujos encargos são custeados pelo fundo.
Atualmente, o fundo tem capacidade para chegar a um maior número de pessoas, porque tem vindo a aumentar o número de médicos, e está a tentar dar “um salto qualitativo” para alargar a sua atividade a “muitas outras situações”.
O objetivo é abarcar um conjunto de pessoas que tem uma “vida problemática”, por não terem planeado a sua reforma, e que está ligada ao envelhecimento e desinserção social.
“O médico habitualmente tem uma atividade muito intensa (…) e com a aposentação pode entrar num isolamento social muito grande, porque a sua vida foi toda dedicada à profissão e raramente construiu laços sociais importantes e entra numa fase em que, de repente, não tem atividade nenhuma”, salientou.
Nesse sentido, Luís Campos Pinheiro defendeu que tem que haver uma reinserção social destas pessoas.
Apesar dos problemas económicos não levarem a pessoa para “uma situação de pobreza extrema”, que é a esse nível que o Fundo de Solidariedade está a atuar, tem problemas financeiros numa altura da vida em que já não tem capacidade para ir trabalhar e auxiliar a sua reforma.
“Portanto, é esse trampolim que nós queremos acrescentar um pouco na ajuda a estas pessoas”, explicou o médico.
HN