A mensagem que passa nos anúncios publicitários aos suplementos alimentares é, sem dúvida, bastante apelativa. São “combinações únicas de minerais e vitaminas”, que “garantem o funcionamento cognitivo, prevenindo o declínio e a demência”. Também prometem “reduzir o cansaço e a fadiga” e “ativar a memória”. Quem não gostaria de rejuvenescer o corpo e a mente com a simples toma de uma cápsula, um comprimido ou um granulado?
Depois da reforma, são várias as características físicas perdidas por quem fica mais tempo em casa, sem objetivos bem definidos. Rui Nogueira, médico de medicina geral e familiar, elucida: “Da mesma maneira que se desgastam outras capacidades cognitivas e físicas, como a acuidade auditiva e visual, também se perde a capacidade de sentir sede; dá-se a diminuição das defesas, reduzindo a capacidade de fazer febre quando há infeções; perde-se massa muscular… e, portanto, tudo entra num círculo vicioso de degradação progressiva.” Como se contraria isto? Com “atividade física”.
Chegados a setembro, muitos reforçam a vitamina C para prevenir as constipações da época; quando estão cansados, investem em ampolas de magnésio para ganhar energia e, se for a geleia real, considerada um superalimento, julgam recuperar a vitalidade. Promessas que, na opinião de Rui Nogueira, é preciso desmistificar. “Não há frasquinhos milagrosos. Basta fazer uma dieta equilibrada, em que entram a fruta e os legumes, comer poucos alimentos de cada vez para ter digestões fáceis e praticar atividade física. Quem faz uma vida normal, com uma alimentação equilibrada e atividade física diária, não precisa de suplemento vitamínico nenhum. Só por uma questão de fé”, sublinha o ex-presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar.
A toma de suplementos por pessoas saudáveis deve ter sempre orientação médica, pois, em excesso, tem efeitos secundários e até graves. “De modo geral, podem provocar náuseas, vómitos, diarreia, prisão de ventre, irritabilidade, alterações da função renal, aparecimento de cálculos renais. Os sintomas de intoxicação por polivitamínicos em excesso são muito variados”, avisa João Gorjão Clara, professor catedrático de Geriatria e fundador da Associação dos Médicos dos Idosos Institucionalizados.
Em casos de défice de vitamina D (característica genética dos portugueses, com prevalência superior à média europeia, segundo o estudo Vitacov), de atrofia muscular (como aconteceu depois dos confinamentos) ou em vegetarianos com défice de vitamina B12 (presente em ingredientes de origem animal), por exemplo, o médico jubilado poderia aconselhar vitaminas e suplementos proteicos, mas “nunca devem ser tomados indiscriminadamente”, já que “não são inócuos”, avisa.
Aliás, não sendo os suplementos alimentares ou vitamínicos classificados como fármacos, não é possível o Infarmed intervir na forma de divulgação destes produtos, cada vez mais disseminados no espaço publicitário.
Envelhecer a bem
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Há tanto que podemos fazer! A idade, a carga genética ou o género não são fatores modificáveis, mas conseguimos evitar uma série de doenças e retardar muito do desgaste dos anos com o nosso comportamento.
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