Tudo começou em abril, quando a gripe que afetava Davey Bauer – um norte-americano de 34 anos – evoluiu para uma infeção pulmonar grave e resistente aos antibióticos que o colocaram em perigo de vida. Como se tratava de um fumador há mais de 15 anos, os médicos que acompanhavam o seu caso mostraram-se relutantes em realizar transplante duplo de pulmão, uma vez que a infeção se tinha espalhado pelo seu organismo e Bauer tinha baixas hipóteses de sobreviver à cirurgia. O homem, residente no Missouri, foi então ligado a um ventilador, em coma induzido, para auxiliar a sua respiração, mas o seu estado continuou a deteriorar-se.
Transferido para o hospital Northwestern, em Chicago – que deu a conheceu o caso pioneiro – os médicos sugeriram um procedimento raro que manteria Bauer vivo enquanto aguardava que a infeção fosse eliminada da sua corrente sanguínea. A equipa de cirurgiões envolvidos no caso ligou-o a uma máquina que reproduzia o trabalho feito pelos pulmões – uma espécie de pulmão artificial que continuou a fornecer oxigénio ao sangue mesmo depois de os seus terem sido removidos do corpo. “Se olharmos para a radiografia, não restava nada – os pulmões estavam completamente cheios de pus. Pensámos que o podíamos ajudar, mas também ficou muito claro que ele não sobreviveria ao transplante no seu estado atual. Ele precisava de eliminar a infeção antes de o podermos incluir na lista para transplante, mas a única forma de o fazer era remover os dois pulmões”, explicou Rade Tomic, diretor do programa de transplante pulmonar do hospital Northwestern Memorial.
Contudo, retirar os pulmões de Bauer levantou um novo problema: o suporte do seu coração. Sem a presença dos pulmões a protegerem e suportarem o órgão cardíaco, este deslocar-se-ia ou entraria mais profundamente na cavidade torácica, colocando em risco a vida do paciente. “Depois de retirarmos os pulmões, apercebemo-nos de que agora tínhamos de apoiar o coração. Estávamos à procura da maior coisa que pudesse caber na cavidade torácica”, esclareceu Ankit Bharat, chefe de cirurgia torácica do hospital que operou em Bauer.
A solução encontrada foi a utilização de um par de implantes mamários – ideia pioneira neste tipo de procedimentos. Os implantes – de tamanho “Duplo D” – mantiveram o coração de Bauer no seu devido lugar até à infeção estar completamente tratada e o seu corpo preparado para receber um transplante de novos pulmões saudáveis.
A equipa médica que acompanhou o procedimento em Bauer acredita que a utilização de implantes pode vir a ser útil em mais tipos de procedimentos. “O caso de Davey é notável porque mostra que podemos manter os pacientes vivos após a remoção de seus pulmões por meio de novas tecnologias, o que pode ser transformador para muitos pacientes em estado crítico. Com esta nova abordagem que desenvolvemos, muitos pacientes que chegam ao ponto de precisar de um transplante de pulmão – mas os seus pulmões danificados estão a deixá-los demasiado doentes para o conseguir – podem agora ser potencialmente transplantados. Penso que isto vai abrir muitas portas a muitos doentes que não têm outras opções”, acredita Bharat.
Bauer teve alta do hospital em setembro e continua a ser acompanhado pela equipa de médicos.