Um estudo feito pela Faculdade de Medicina da Universidade Estadual da Flórida, nos Estados Unidos, publicado na revista Nature, revela que o aspartame pode ter efeitos negativos na aprendizagem espacial e na memória, que se transmitem hereditariamente.
O consumo diário do adoçante artificial, durante 16 semanas, em doses equivalentes a apenas 7 a 15% do valor máximo de ingestão diária recomendado pela Food and Drug Administration (FDA, agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos), produziu défices cognitivos significativos em ratinhos de laboratório.
As cobaias foram divididas em três grupos: um grupo de controle que consumiu apenas água; um grupo que ingeriu 7% da ingestão máxima recomendada de aspartame pelo FDA na água; e um grupo que ingeriu 15% desse valor de aspartame na água. Para medir os efeitos, os ratinhos foram sujeitos a um teste: tinham de aprender a encontrar uma caixa de fuga “segura”, entre 40 opções, dentro de um espaço circular. Enquanto o grupo de controle sem aspartame encontrou a caixa rapidamente, os ratos que receberam o adoçante demoraram muito mais para completar a tarefa. Além disso, “os défices cognitivos foram transmitidos aos descendentes masculinos e femininos ao longo da linhagem paterna”, descreve o estudo.

A equipa de investigadores, liderada por Pradeep Bhide, noutro estudo publicado em dezembro de 2022, já tinha relacionado o consumo de aspartame à ansiedade em ratos, com efeitos que se estendem por até duas gerações. “Esta é uma função cognitiva distinta do comportamento de ansiedade, portanto os efeitos do aspartame são muito mais difundidos do que o artigo anterior sugeria”, afirmou Bhide, numa entrevista concedida ao jornal da universidade.
Em julho de 2023, o aspartame tinha sido classificado como possivelmente carcinogénico para os humanos – o segundo nível mais baixo, o que significa que faltava evidência científica da correlação –, e os valores diários de consumo aceitáveis não foram alterados. A análise partiu de centenas de estudos e foi feita pela Agência Internacional para Pesquisa do Cancro, em conjunto com a Organização Mundial da Saúde e a Organização da Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura. A dose diária admissível previamente estabelecida permitia até 40 miligramas por cada quilo de peso do consumidor. O que dá uma larga margem de consumo. Se tomarmos como exemplo um refrigerante dietético, que contém habitualmente entre 200 e 300 miligramas de aspartame, um adulto com 70 quilos teria de consumir nove a 14 latas por dia para ultrapassar o limite aceitável.
Quase 200 vezes mais doce do que o açúcar, o aditivo alimentar está atualmente presente numa vasta gama de produtos, não só alimentares – como é o caso da pasta dentífrica ou das gotas para a tosse.
“Os efeitos adversos do aspartame podem ser mais significativos do que se imagina atualmente, e as avaliações de segurança do aspartame devem considerar os efeitos potenciais nos indivíduos diretamente expostos, bem como nos seus descendentes”, defendem os investigadores da Universidade da Florida, nas conclusões do estudo.