Um estudo publicado este mês na revista Lancey Planetary Health fez uma análise a dados de 116 países ao longo de 18 anos e tudo aponta para que a resistência aos antibióticos aumente em paralelo com os níveis de pequenas partículas, ou PM2.5, que têm origem na combustão dos motores e podem penetrar nos pulmões e na corrente sanguínea.
“A nossa análise apresenta fortes indícios de que o aumento dos níveis de poluição atmosférica está associado a um maior risco de resistência aos antibióticos”, escrevem os investigadores da Universidade de Zhejiang, na China, e da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, acrescentando que “esta análise é a primeira a mostrar como a poluição do ar afeta a resistência aos antibióticos a nível mundial”.
A equipa apurou que as partículas PM2.5 podem conter bactérias resistentes a antibióticos que podem ser transferidas entre ambientes e inaladas diretamente pelos seres humanos.
A ligação está “a aumentar a um ritmo acelerado”, afirmam os investigadores, “o que poderá acelerar o início da chamada era pós-antibiótica”, em que as super-bactérias poderão tornar-se predominantes.
Os resultados deste estudo, que os autores classificam como observacional, por não provar causa e efeito, indicam que cada aumento de 10% na poluição atmosférica está associado a um aumento de 1,1% na resistência aos antibióticos.
Os investigadores consideraram possíveis cenários futuros e concluíram que se não existirem alterações às políticas que estão em vigor no que diz respeito à poluição atmosférica, até 2050, os níveis de resistência aos antibióticos a nível mundial poderão aumentar 17 por cento.
“A resistência aos antibióticos e a poluição atmosférica são, cada uma por si, uma das maiores ameaças à saúde mundial. Até agora, não tínhamos uma imagem clara das possíveis ligações entre os dois. Mas este trabalho sugere que os benefícios do controlo da poluição atmosférica podem ser duplos: não só reduzirá os efeitos nocivos da má qualidade do ar, como também poderá desempenhar um papel importante no combate ao aumento e à propagação de bactérias resistentes aos antibióticos”, considera Hong Chen, da Universidade de Zhejiang.
Embora o estudo aponte para a correlação entre a poluição e a resistência antimicrobiana, não demonstrou que uma causa a outra. Investigações futuras nesta matéria, segundo os autores, devem focar-se na investigação do mecanismo subjacente a esta relação.