Jorge André, de 43 anos, começou a sentir dores de costas há cerca de três anos e desde logo soube que seriam “fruto de má postura no trabalho, das horas prolongadas de trabalho e das posições assimétricas”, típicas dos médicos dentistas, que estão “sempre de um lado da cadeira”. Apesar de ter “sintomatologia parecida com ciática”, os exames de Jorge mostraram que “era um problema essencialmente muscular e postural”, a típica dor lombar, que afeta, de forma crónica, 37,3% da população portuguesa com mais de 15 anos, de acordo com os mais recentes dados do Inquérito Nacional de Saúde, do Instituto Nacional de Estatística (INE).
A má postura no trabalho e o chamado “pescoço de telemóvel” são os fatores mais apontados como estando na origem das dores de costas
Segundo o relatório, divulgado em 2020, “as dores crónicas, designadamente as dores lombares ou outros problemas crónicos nas costas e as dores cervicais ou outros problemas crónicos no pescoço, foram as doenças crónicas referidas com maior frequência em 2019, respetivamente 37,3% e 27,1%”. A má postura laboral e o chamado “pescoço de telemóvel” são as causas mais facilmente apontadas, mas a verdade é que as dores de costas – cervicalgia, lombalgia e dorsalgia – têm uma origem multifatorial, sendo o traumatismo uma delas, tal como aconteceu a Sandra Rodrigues. “As dores foram resultado de um acidente de carro que tive, bateram [no meu carro] por trás e fiz efeito chicote. A partir daí, fiz ressonâncias magnéticas, mas não davam nada. Comecei a ter uma dor permanente e crónica, fui-me habituando um bocadinho à dor, tenho alguma resistência a ela”, conta à VISÃO Saúde a stylist, de 47 anos, embora reconheça que era à noite que mais sentia dor, “não descansava bem, acordava sempre com dores” e que isso afetava a boa disposição. “Cheguei a um momento em que pensei que tinha de fazer alguma coisa, porque já não estava a aguentar, era 24 horas sobre 24 horas com uma dor permanente no pescoço”, lembra. O diagnóstico de cervicalgia chegou pela mão do médico anestesiologista Armando Barbosa, da clínica Paincare, em Lisboa. O tratamento de Sandra passou pela radiofrequência, uma “desvitalização das articulações” que “é muito seletiva”, mas cujos resultados se mostram eficazes: “A pessoa não sente mais sintomas nenhuns, além de não sentir dor na articulação”, explica o médico.
Já Jorge André, após um “tratamento direcionado para o alívio dos sintomas”, viu no exercício físico a solução para o combate à dor e para a prevenção da mesma. O médico dentista entrou no programa Human Performance, da clínica FISIOGlobal, em Vila Nova de Gaia, “em que sou acompanhado por um fisioterapeuta e faço três vezes por semana um treino com supervisão adequada à minha condição”. Apesar de continuar a ter algumas limitações posturais por causa da sua profissão, Jorge André admite que se sente muito melhor agora, pois, “no treino acompanhado os benefícios são muito maiores, porque são direcionados aos nossos pontos fracos, que a pessoa não consegue perceber. Sinto-me totalmente diferente do ponto de vista postural e mesmo do ponto de vista emocional houve grandes vantagens pelo facto de fazer exercício regradamente três vezes por semana”, até porque, garante, “não há ninguém que consiga estar mental e emocionalmente bem se a condição física não estiver bem”.
Dor de costas: Os tratamentos mais eficazes
Lidar com uma dor de costas para a vida toda
Jacinta Quelhas começou a sentir uma “sensação de peso”. “Parecia que era o rim em si, mas era a lombar já a atacar as sacroilíacas também”, diz. Os sintomas apareceram quando tinha perto de 18 anos e foram precisos mais de dez anos para que o diagnóstico fosse dado: espondilite anquilosante, doença inflamatória crónica que tende a afetar maioritariamente as articulações da coluna.
“A espondilite ataca de noite, adora a imobilidade. De manhã nunca sabemos como é que vamos estar, quanto tempo vamos demorar para vestir, calçar, tomamos banhos de água quente para aliviar os músculos”, explica, relembrando, depois, o quão difícil foi gerir a dor crónica com a profissão de professora de Educação Especial. “Não era propriamente só um professor que estava doente e metia baixa, sempre que metia baixa obrigava vários colegas em várias escolas a tomar conta das crianças a que não podia assistir, o que me causou, ao longo dos anos, muitos conflitos laborais, muita incompreensão por parte da entidade patronal”, recorda.
Hoje, com 60 anos e já aposentada por invalidez – “já não conseguia trabalhar mais”, diz –, Jacinta mantém-se fisicamente ativa, mesmo que nem sempre o corpo o permita. “É muito difícil uma pessoa acordar toda empenada”, diz, enquanto se ri, mostrando o otimismo com que leva a doença, algo que com o tempo foi reforçando para conseguir lidar melhor com a dor constante e, muitas vezes, incapacitante. “A inatividade para mim não é uma opção”. Além das caminhadas, Jacinta faz também hidroginástica e ioga, e “quando a dor é muito forte, marco uma consulta de acupuntura”, que é um complemento aos medicamentos que toma diariamente. “Controlo o meu dia, tenho o plano da consulta da dor que me permite dosear a medicação de acordo com o estado de dor em que estou.”
Tal como Sandra e Jorge também relataram, a dor crónica não tem apenas impacto no corpo, a mente também sente, a boa disposição fica comprometida, as emoções fervilham à flor da pele. No caso de Jacinta, a incompreensão é um dos fatores que mais pesam quando avalia o impacto que a doença tem em si. “Quem tem espondilite não tem nada para mostrar, ninguém vai ver os nossos exames. A incompreensão leva-nos a procurar apoio, eu tenho apoio psicológico mensal e não vivo sem ele, tenho hipótese de descarregar lá toda a minha raiva por incompreensão, mas já estou numa fase de aceitação.”