Uma equipa internacional de investigadores editou geneticamente o tomate, com o objetivo de se produzir vitamina D e minimizar a sua falta, um problema que afeta milhões de pessoas em todo o mundo.
Os precursores de vitamina D são produzidos pelo corpo sendo que, a partir da exposição solar, a pele faz a transformação da provitamina D3 (ou 7-DHC) em vitamina D3, que também pode ser encontrada na alimentação ou através de suplementos. O que os investigadores fizeram foi bloquear um gene no tomate que codifica uma proteína que normalmente converte a provitamina D3, precursora da vitamina D3, em colesterol, resultando na acumulação dessa provitamina.
Para converter a provitamina D3 em vitamina D3, os investigadores utilizaram luz UVB para tratar os tomates. De acordo com Cathie Martin, professora no instituto de pesquisa John Innes Centre em Norwich, Inglaterra, citada pela CNN, os tomates também podem ser secos ao sol depois de serem colhidos, eliminando a necessidade de tratamento com luz UVB. Os primeiros frutos devem amadurecer até o final de junho, dizem os investigadores.
Depois de ter sido realizado o processo, a equipa percebeu que a quantidade de vitamina D3 num tomate era equivalente à encontrada em dois ovos de tamanho médio ou 28 gramas de atum. Em relação ao aspeto e sabor, os tomates editados por genes são indistinguíveis e têm o mesmo sabor dos tomates normais, garantiu outro investigador do estudo, Jie Li, do John Innes Centre.
À Science Media Centre, Guy Poppy, professor de ecologia da Universidade de Southampton, Inglaterra, que não esteve envolvido no estudo, classificou esta descoberta como “empolgante” e referiu que, além de poder contribuir para a saúde, pode motivar as pessoas a seguirem dietas baseadas em vegetais, que são “muitas vezes associadas ao desafio de garantir algumas vitaminas e minerais importantes encontrados em produtos de origem animal”.
Cathie Martin explica que esta técnica de bloqueio de genes, disponibilizada gratuitamente no artigo publicado na segunda-feira na revista científica Nature Plants, também pode ser aplicada a outras espécies da família Solanaceae, como pimentão, berinjela e batata.
Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna, as cientistas que desenvolveram a tecnologia de edição de genes utilizada neste estudo, denominada CRISPR-Cas9, venceram o Prémio Nobel da Química em 2020. Esta ferramenta permite alterar o ADN de animais, plantas e microrganismos com extrema precisão e, através dela, tem sido possível minimizar ou até curar doenças de origem genética, doenças hereditárias e até alguns tipos de cancro.