Novo estudo da Universidade de Lisboa e da Royal Veterinary College, em Londres, alerta que os animais de estimação podem estar a transmitir aos seus donos bactérias e genes resistentes a antibióticos. Os especialistas recomendam que os donos não deixem os seus animais lamber-lhes a cara, beijá-los, ou comer do seu próprio prato, algumas das principais ações que podem levar à transmissão, e que ganhem o hábito de lavar sempre as mãos após acarinhar os animais ou apanhar os seus dejetos.
Este tipo de bactéria resistente a antibióticos é também conhecido por superbactéria, e está a gerar enorme preocupação entre a comunidade médica – as superbactérias causaram mais de 1 milhão de mortes a nível global em 2019, segundo um estudo publicado este ano na revista científica britânica The Lancet.
“Mesmo antes da pandemia Covid-19, a resistência antibiótica era uma das maiores ameaças à saúde pública porque pode tornar incuráveis condições como a pneumonia, a sepsis e as infeções do trato urinário”, alerta uma das investigadoras principais do estudo, Júlia Menezes, da Universidade de Lisboa.
A relação de transmissão das superbactérias entre humanos e os seus animais de estimação tem sido estudada com particular atenção nos últimos anos, pois alguns animais podem ser portadores de bactérias e genes resistentes aos antibióticos.
Nesse sentido, Júlia Menezes e os seus colegas recolheram e testaram amostras de fezes de 114 humanos saudáveis, 85 cães e 18 gatos, divididos entre o Reino Unido e Portugal. As amostras foram recolhidas com um intervalo de quatro meses e testadas usando o método de sequenciação de ADN, usado para identificar as espécies de bactéria em cada amostra e a presença de genes resistentes aos antibióticos.
Foram encontrados vestígios da superbactéria Escherichia coli, mais conhecida por E.coli – uma bactéria encontrada com frequência no intestino humano mas que pode ser fortemente prejudicial se entrar em contacto com outros órgãos –, em 15 humanos, 1 gato e 14 cães. Para além disso, em quatro famílias diferentes, os genes resistentes aos antibióticos encontrados nos animais de estimação correspondiam exatamente aos encontrados nos seus donos. Num desses agregados familiares, a correspondência ocorreu nas duas recolhas consecutivas, separadas por quatro meses, o que sugere uma contaminação direta.
Contudo, o estudo é apenas observacional, e, por isso, os resultados obtidos não conseguem provar que os animais de estimação tenham sido diretamente responsáveis pela contaminação.