O processo conhecido como litotripsia pode ser uma alternativa mais eficaz e acessível ao tradicional tratamento das pedras nos rins, de acordo com estudos iniciais realizados em humanos e relatados no The Journal of Urology, o jornal oficial da Associação Americana de Urologia.
A litíase renal, também conhecida como pedras nos rins, é uma condição médica comum que resulta da deposição de resíduos químicos presentes na urina que vão, ao longo do tempo, formando aglomerados, conhecidos como pedras, de proporções progressivamente maiores, podendo ser a causa de muita dor quando presos nos rins ou no ureter.
As pedras, cujo tamanho pode variar entre um grão de areia e uma bola de golfe, podem conseguir ser expulsas naturalmente pelo organismo quando apresentam dimensões mais reduzidas, mas, se tal não suceder, torna-se necessária uma intervenção médica para as remover, como a litotrícia extracorporal ou, na pior das hipóteses, cirurgia.
No caso da litotrícia extracorporal, no tratamento atualmente utilizado são emitidas ondas de choque para fragmentar as pedras nos rins através da energia ultrassom gerada pelo aparelho utilizado. As ondas, neste caso, são de alta amplitude e baixa frequência e o processo pode durar até uma hora. A litotrícia extracorporal implica, geralmente, que o doente esteja numa clínica ou hospital e sob o efeito de sedativos, algo que o mais recente tratamento procura evitar, reduzindo, com isso, os custos.
O objetivo dos dois tratamentos é semelhante, ou seja, ambos procuram fragmentar as pedras nos rins numa tentativa de permitir que sejam naturalmente expulsas pelo organismo, mas é a forma como o fazem que difere. Contrariamente à litotrícia extracorporal, as ondas de ultrassom utilizadas pela litotripsia têm uma amplitude mais reduzida e uma maior frequência, sendo um procedimento curto que não precisa de anestesia ou qualquer tipo de sedativo.
O primeiro estudo realizado em humanos contou com a participação de 19 pessoas com pedras nos rins. O procedimento durou um total de apenas 10 minutos e os resultados foram promissores: uma média de 90% do volume total de pedras de todos os doentes fragmentou-se desde 12 a 2 milímetros, enquanto que no tratamento mais tradicional da litotrícia extracorporal apenas 60% o fazem, de acordo com o estudo. Um fragmento de 4 milímetros já tem o potencial de ser expelido, mas de forma mais dolorosa do que quando se fala de pedras menores.
Observações no uretroscópio mostraram não apenas o funcionamento das ondas na fragmentação das pedras, mas também as lesões que poderiam resultar do procedimento. Também aí os resultados foram positivos, apresentando apenas lesões leves, nomeadamente níveis reduzidos de sangue na urina, ou nenhuma lesão de todo.
“A nova tecnologia BWL fragmentou com sucesso pedras de vários tamanhos, locais e densidades em fragmentos de menos de dois milímetros em 10 minutos com lesões insignificantes”, disse em comunicado Jonathan Harper, da Universidade de Medicina da Universidade de Washington, um dos autores do estudo. “A litotripsia por ondas de explosão tem o potencial de ser administrada em doentes acordados sem anestesia”, acrescentou ainda.
Um outro membro da equipa, Michael Bailey, também da Universidade de Washington, já havia explorado a possibilidade de utilizar ondas de ultrassom para aproximar as pedras formadas da saída dos rins, uma descoberta que espera que se possa aliar à litotrícia. “A qualquer momento vamos começar um estudo na clínica no qual as pessoas chegam com pedras, nós quebramo-las e depois tentamos empurrá-las para que fiquem realmente fora do rim quando a pessoa sair”, disse em resposta à New Scientist.
O tratamento experimental pode ser uma boa notícia para quem tem tendência a desenvolver pedras nos rins, nomeadamente porque os tratamentos atuais podem ser muito dolorosos, exigindo, por vezes, que o doente regresse ao posto médico mesmo depois de uma cirurgia, se a mesma for necessária.
Em Portugal, estima-se que cerca de 800 mil pessoas sofram atualmente com pedras nos rins.