Há muitas perguntas por responder sobre a Covid-19, desde logo a sua origem, ainda não determinada definitivamente, se é que alguma vez será. Um dos vários enigmas da doença que mudou o curso das nossas vidas é a chamada Covid longa, ou seja, sintomas que persistem por semanas ou meses depois da infeção.
Um estudo agora publicado na revista científica Cell sugere que os fatores biológicos de cada um podem ajudar a prever se um infetado poderá ter sintomas por muito tempo. Os investigadores acompanharam mais de 200 pacientes por dois a três meses, depois de terem sido infetados, e encontraram quatro fatores que, se encontrados no início da doença, poderão estar relacionados com uma maior propensão para ter Covid longa.
Um dos quatro fatores identificados é o nível de RNA do coronavírus no sangue no início da infeção, ou seja a carga viral. Outro é a presença de certos autoanticorpos – anticorpos que atacam erradamente tecidos do corpo, como acontece nas doenças autoimunes. O terceiro está relacionado com a reativação do vírus Epstein-Barr (vírus que infeta a maioria das pessoas, normalmente quando são jovens e que, depois, fica inativo). O último fator é ter diabetes tipo 2.
Os investigadores relataram que existe uma correlação entre estas quatro circunstâncias e a Covid longa, independentemente da infeção ter sido grave ou mais leve e que esta descoberta abre a possibilidade de administrar medicamentos antivirais logo no início do diagnóstico por Covid-19.
Em declarações ao jornal The New York Times, Steven Deeks, professor de medicina na Universidade da Califórnia, e um dos envolvidos no estudo, diz que “esta é a primeira tentativa sólida” de saber se alguns mecanismos biológicos estão relacionados com a Covid longa. No entanto, adverte, que estas descobertas são “exploratórias” e precisam de ser mais investigadas.
No estudo, que envolveu vários cientistas e universidades, foram analisados os sintomas de 209 pessoas entre os 18 e os 89 anos. Algumas tinham sido internadas devido à Covid-19 e outras apenas doença leve. Entre os 20 sintomas descritos estavam a fadiga, falta de ar e confusão mental. Além disso, foram feitas análises de sangue e analisadas as zaragatoas usadas no início da infeção e as que foram utilizadas dois meses depois.
Cerca de 37% dos pacientes disseram ter três ou mais sintomas de Covid longa dois ou três meses depois da infeção; 24% relataram um ou dois sintomas; e 39% disseram não ter nenhum. Dos pacientes que responderam ter três ou mais sintomas, 95% tinham um ou mais dos quatro fatores biológicos identificados no estudo.
Um dos cientistas envolvidos no estudo atesta, ao mesmo jornal, que “o fator mais influente parece ser o dos autoanticorpos, que foram associados a dois terços dos casos de Covid longa”.