Uma má higiene oral pode representar um risco acrescido, em termos de gravidade, para a Covid-19, de acordo com um estudo que contou com 308 pacientes egípcios que testaram positivo e foram avaliados em relação à sua saúde oral e à severidade dos efeitos da Covid-19.
Os resultados revelaram uma correlação entre uma pior saúde oral e a severidade dos sintomas da Covid-19, e também com o tempo de recuperação. Ou seja, uma má saúde oral pode colocar-nos em risco de sofrer doença mais severa em caso de infeção por Covid-19, e levar também a um período de recuperação mais longo.
A relação entre higiene oral e a Covid-19 ainda é relativamente pouco estudada, mas existem várias evidências de que uma má higiene oral pode levar a hiper-inflamação, e agravar o risco de muitas outras doenças. Doenças cardíacas, aumento da pressão arterial, diabetes, doença renal, doenças respiratórias e até nascimentos prematuros – são todas condições que podem ser causadas ou agravadas por uma má higiene oral.
Em casos extremos, as bactérias que se alojam na boca podem causar problemas nas gengivas, acabando por entrar na corrente sanguínea e afetando todo o corpo, aumentando os níveis de inflamação e contribuindo para diversas doenças crónicas.
Além disso, as pessoas infetadas com Covid-19 grave (quando comparadas com as que sofrem infeções ligeiras a moderadas) apresentam níveis altos de proteína c-reativa, um indicador inflamatório e também de citocinas (moléculas que têm a função de mediar e regular a resposta inflamatória e imunitária). Em alguns casos, o organismo entra num estado descrito como uma “tempestade de citocinas“, em que o sistema imunitário trabalha em excesso, acabando por prejudicar outros tecidos e órgãos do corpo ao tentar combater o vírus.
Estes indicadores também estão presentes em pessoas com uma má higiene oral, o que sugere que uma má higiene oral possa desencadear – embora em menor grau – uma resposta imunitária semelhante à da Covid-19. Combinando os dois fatores, os resultados poderão ser desastrosos.
Além do mais, as bactérias da cavidade oral podem facilmente entrar no sistema respiratório, causando infeções pulmonares que podem agravar os efeitos da Covid-19. Outros estudos já exploraram o potencial perigo de co-infeções, ou seja, casos de acumulação de Covid-19 com outras infeções – o que pode agravar a severidade da doença e representar um maior risco de morte.
De acordo com um outro estudo, as enzimas segregadas pelas bactérias que causam doenças gengivais podem alterar a superfície da cavidade oral e do trato respiratório, fazendo com que vírus, como o SARS-CoV-2, por exemplo, possam mais facilmente aderir a essas superfícies e causar infeções.
Por estas razões, os autores do estudo alertam para a importância de manter uma boa higiene oral – especialmente numa altura em que é normal as pessoas manterem-se mais afastadas dos consultórios de dentista.
“Os tecidos orais podem atuar como um reservatório para o SARS-CoV-2, desenvolvendo uma elevada carga viral na cavidade oral. Por conseguinte, recomendamos a manutenção da saúde oral e a melhoria das medidas de higiene oral, especialmente durante a infeção por Covid-19”, diz Ahmed Mustafa Basuoni, autor principal do estudo e consultor em cardiologia da Universidade do Cairo, num comunicado de imprensa.
“Medidas simples como a prática de uma higiene oral adequada, a sensibilização para a importância da saúde oral, quer em relação à infeção por Covid-19, quer em relação a doenças sistémicas, utilizando meios de comunicação social e medicina comunitária, visitas regulares ao dentista, especialmente em pacientes com doenças cardiovasculares, e a utilização de lavagens bucais antimicrobianas podem ajudar a prevenir ou a diminuir a gravidade da doença Covid-19”, continua.