O cancro da próstata representa a segunda causa de morte por cancro no homem, atrás do cancro do pulmão, e é o mais frequente em homens com mais de 50 anos. Em Portugal, estima-se que tenha uma incidência de 82 casos por 100 mil habitantes e uma mortalidade de 33 por 100 mil habitantes.
Só no ano passado, em plena pandemia, foram diagnosticados 7 mil novos casos no País, apesar de este número ser apenas estatístico e poder ser inferior à realidade, alerta Joaquim Domingos, presidente da Associação Portuguesa dos Doentes da Próstata (APDPróstata).
Por isso mesmo, várias entidades uniram-se a esta associação para, esta quarta-feira, alertarem para a gravidade deste tipo de cancro, que evolui, muitas vezes, de forma lenta e silenciosa (não apresenta sintomas numa fase inicial). A iniciativa, “Mostre um cartão vermelho ao cancro da próstata”, pretende informar, essencialmente, e sensibilizar, depois. “Há, de facto, uma certa desinformação”, diz à VISÃO Luís Abranches Monteiro, médico urologista e presidente da Associação Portuguesa de Urologia. “Não devemos estar à espera de sintomas, porque estes são habitualmente de doença benigna”, alerta o médico.
Um problema associado a este cancro, afirma o especialista, tem a ver com a fiabilidade dos valores do marcador tumoral PSA, antigénio específico da próstata, utilizado principalmente para rastrear este cancro em homens assintomáticos. “Há muitos homens com valores muito mais elevados por doença benigna e outros com valores abaixo do limite e com malignidade presente. Esta análise tem que ser ponderada por um especialista e confrontada com outros fatores”, afirma Abranches Monteiro.
Mais letal para os homens do que o cancro da mama para as mulheres e o preconceito que ainda existe
O cancro da prótata é uma doença com caraterísticas particulares e “muitíssimo frequente a partir da sexta e sétima décadas de vida”, embora possa surgir mais cedo, diz o médico. “Cada caso pode ter um prognóstico muito diferente e tanto pode ter um comportamento benigno como também pode ser causa de morte ao fim de alguns anos se não for tratado”, acrescenta.
Apesar de ser um cancro mais letal para os homens do que o cancro da mama para as mulheres, “o diagnóstico não é necessariamente trágico e até há tratamentos curativos cada vez menos mutilantes”, explica o especiaista, acrescentando que “diagnosticar a doença em fase precoce é a chave”.
“Este cancro não apresenta sintomas nem é facilmente encontrado em meios complementares, mas uma simples análise sanguínea pode levar à suspeita e, sob outros exames, ao diagnóstico e decisão de tratar”, diz ainda. Isto pode evitar que o cancro cresça para uma fase avançada, sem cura e em que os tratamentos são muito dispendiosos e com consequências na qualidade de vida.
Existe, além disto, um tabu relacionado com a associação da próstata à função sexual, com a ideia de que possa ficar ameaçada pelos tratamentos. “É importante saber que nem sempre é assim e que a sexualidade é cada vez mais reabilitável, mesmo após os tratamentos mais agressivos”, esclarece o especialista. “Mesmo no cancro avançado, dispomos de novos fármacos que, mesmo em casos disseminados, podem permitir muito mais anos de sobrevida do que há uma ou duas décadas”, remata.
A iniciativa, apoiada pela Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), pela Associação Portuguesa de Urologia (APU), pela Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO) e pela Astellas Farma, faz parte da campanha nacional Homens Bem Informados, lançada este verão, que pretende promover um maior conhecimento e esclarecimento sobre o cancro da próstata.