Um estudo realizado por investigadores britânicos concluiu que a vacinação contra a Covid-19 não reduz acentuadamente o risco de transmissão da variante Delta entre pessoas que coabitem. A investigação, publicada na última quinta-feira na revista científica The Lancet, sugere que quem foi totalmente vacinado mas ficou infetado transmite quase tanto o vírus como os infetados não vacinados, embora, ressalvem os investigadores, a probabilidade de os contactos ficarem infetados seja menor se estiverem, por sua vez, protegidos pela vacina.
Os investigadores, que analisaram dados no Reino Unido de 621 voluntários, entre setembro do ano passado e o mesmo mês deste ano, perceberam ainda que a carga viral de pessoas infetadas com a variante Delta do vírus tinha registado picos semelhantes, independentemente do estado de vacinação contra a doença, o que pode ajudar a explicar a ocorrência de um elevado número de casos, mesmo nos países que já têm altos índices de vacinação.
De acordo com a equipa, registaram-se 205 contactos domésticos para a variante Delta, que foram testados diariamente durante 14 dias cinco dias após o membro da família apresentar sintomas, sendo que 53 deram positivo para a Covid-19. Destes 205, 126 – 62% – tinham recebido duas doses de vacina, 39 (19%) receberam uma dose e 40 (19%) não foram vacinados. Relativamente aos contactos que tinham recebido as duas doses da vacina, 25% ficaram infetados com a variante delta, em comparação com os 38% registados em contactos domésticos não vacinados.
Apesar de ser uma diferença pequena, estes dados demonstraram um risco menor de pessoas vacinadas serem infetadas com a variante Delta em comparação com não vacinadas. Estes valores não esclarecem, contudo, a gravidade da doença.
Para avaliar o risco de transmissão, os investigadores tiveram em conta o estado de vacinação para contactos domésticos expostos ao primeiro caso detetado num agregado familiar de variante Delta. O estado de vacinação foi, então, divido em três grupos: não vacinado, se não tivesse recebido uma única dose de vacina pelo menos sete dias antes da inscrição para o estudo, parcialmente vacinado, se recebeu uma dose pelo menos sete dias antes da inscrição, e totalmente vacinado, se tomou duas doses mais de sete dias antes.
“Ao recorrermos à amostragem repetida de contactos de casos de covid-19, descobrimos que as pessoas vacinadas podem contrair e transmitir a infeção dentro das famílias, incluindo aos membros da família vacinados”, afirmou Anika Singanayagam, co-autora do estudo.
Apesar dos resultados, os investigadores, de universidades como Imperial College de Londres, a Universidade de Oxford e a Universidade de Surrey ou a Agência de Saúde Pública inglesa, ressalvam a importância da vacinação contra a Covid-19 para a prevenção de doença grave, apoiando a inoculação com doses de reforço. “A imunidade diminui com o tempo, é imperfeita, o que significa que a transmissão continua a existir, e é por isso que o programa de reforço é tão importante”, explica Neil Ferguson, epidemiologista e um dos autores do estudo.
Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) anunciou, no início do mês, que um reforço da vacina contra a Covid-19 seria administrada a idosos com mais de 65 anos e residentes em lares. Ao Observador, fonte da DGS explicou que “como em qualquer vacina, a eficácia do esquema vacinal primário é dinâmica, e, embora este esquema tenha gerado uma proteção elevada durante vários meses, existe a necessidade de realizar reforços, de modo a manter essa proteção elevada”.