Para muitos de nós, um duche de água fria é algo desagradável que preferiríamos evitar. Mas a prática sempre teve adeptos, e muitos benefícios têm-lhe sido associados.
Agora, um novo estudo holandês vem contribuir para o debate: os duches de água fria têm mesmo benefícios para a saúde?
O estudo, publicado na revista científica PLOS One, contou com mais de 3000 voluntários entre os 18 e os 65 anos, que foram divididos em quatro grupos. Foi-lhes pedido que tomassem um duche quente todos os dias, durante um mês, mas um dos grupos teria que finalizar os duches com 30 segundos de água fria, outro com 60 segundos de água fria, e um outro com 90 segundos. O quarto grupo foi um grupo de controlo que apenas tomou os duches de água quente normalmente.
Depois de um período de três meses – que coincidiu com os meses de inverno, caracterizados por um pico de infeções pelo vírus da gripe – os cientistas verificaram que os grupos que seguiram o protocolo do duche com água fria tinham apresentado uma redução de 29% nas faltas ao trabalho por doença, independentemente da duração do período de água fria.
Uma primeira leitura permitiria estabelecer uma ligação entre os duches de água fria e a prevenção de doenças – mas a relação entre as duas ainda não é clara. Alguns cientistas sugerem, no entanto, que tenha algo a ver com o sistema imunitário, com um estudo feito em 1996 na República Checa a atingir conclusões semelhantes. Este estudo concluiu que a imersão em água a 14ºC (três vezes por semana durante seis semanas) teve um efeito leve, mas significativo, no aumento de alguns tipos de glóbulos brancos – as células responsáveis pela resposta imunitária contra infeções.
A água fria também pode ativar o sistema nervoso simpático. Isto quer dizer que submergirmo-nos em água fria ativa uma resposta fisiológica automática, em reação a um evento que o cérebro identifica como stressante, perigoso ou assustador – uma reação “lutar ou fugir”. O resultado é o aumento de uma hormona chamada noradrenalina: o ritmo cardíaco acelera e a pressão arterial sobe, podendo daí advir benefícios para a saúde, além de potenciar a atenção e concentração.
A água fria também tem o efeito de melhorar a circulação e de reduzir inflamação e fadiga muscular – a exposição a água fria (através de banhos de água gelada ou crioterapia) é um método popular de recuperação muscular usado por desportistas – e pode até ajudar a perder peso através da aceleração do metabolismo: um estudo de 2000 concluiu que imersão em água a 14ºC aumenta o metabolismo em 350 por cento.
Mas os benefícios não são apenas físicos: a água fria também pode ter efeitos positivos na saúde mental, como redução do stress, tornando o sistema nervoso mais resiliente, aumentar o estado de alerta e até aliviar os sintomas da depressão. Devido à “alta densidade de recetores do frio na pele, um duche de água fria deverá enviar uma grande quantidade de impulsos elétricos das terminações nervosas presentes na pele para o cérebro, o que pode resultar num efeito antidepressivo”, de acordo com um estudo de 2007.
Além disso, a água fria (ou, pelo menos, morna) é uma opção mais segura para a pele, uma vez que um duche de água quente, por muito relaxante que possa ser, pode deixar a pele mais seca e agravar condições pré-existentes como eczema, rosácea ou psoríase.
“Os efeitos da água quente na pele podem ser um pouco negativos, no sentido em que pode remover muitos dos óleos e gorduras protetores da nossa pele, que são responsáveis por manter a pele hidratada e garantir que a barreira da pele está intacta”, explica Gordon Bae, professor de dermatologia na Universidade de Stanford. “Quando estamos a limpar a nossa pele, ao removermos esses óleos, isso pode tornar a pele extremamente seca.”
No entanto, os duches de água fria não são necessariamente a solução para toda a gente. “Pode ser um choque para o nosso sistema”, avisa Bae. “Pessoas mais velhas ou que tenham condições cardíacas pré-existentes devem pensar duas vezes antes de o fazerem, ou pelo menos consultar um médico”, já que podem estar mais sujeitas a ataques cardíacos ou arritmias em consequência do choque térmico.