O risco de ter excesso de peso ou obesidade na próxima década é maior nas pessoas entre os 18 e os 24 anos. Contrariando algumas teses que dão conta do peso de fatores como sexo, etnia ou condições sócioeconómicas, um estudo da University College London vem revelar que ser jovem adulto é, de facto, o maior fator de risco.
Publicado na revista The Lancet Diabetes & Endocrinology, o estudo revela que os jovens adultos são quatro a seis vezes mais propensos a ter excesso de peso ou obesidade na próxima década de vida quando comparados com pessoas de qualquer outra faixa etária, sobretudo as mais velhas (dos 65 aos 74 anos).
De forma mais detalhada, o estudo concluiu que os jovens adultos são 4,2 vezes mais propensos a passar de um peso normal para um estado de excesso de peso/obesidade do que as pessoas entre os 65 e os 74 anos. Além disso, foi possível perceber que estar entre os 18 e os 24 anos aumenta em 4,6 vezes a probabilidade de passar da categoria de excesso de peso para obesidade. Os jovens adultos mostram-se ainda 5,9 vezes mais vulneráveis ao agravamento dos estados de obesidade do que as pessoas das outras idades.
Para a investigação, foram usados dados anónimos de mais de dois milhões de pessoas (de várias idades), o que resultou em mais de nove milhões de medições de peso e do índice de massa corporal (IMC), ainda usado como ferramenta de análise para a avaliação do peso e do risco de obesidade. Os dados foram recolhidos de 400 centros de cuidados primários entre 1998 e 2016, esclarece a universidade no seu site.
Assim que cruzaram todos os dados, os cientistas notaram uma clara ligação entre o início da vida adulta e a maior probabilidade de ter obesidade na década seguinte, uma vez que os jovens adultos passavam mais facilmente da categoria de excesso de peso (IMC de 25,5 a 29,9) para obesidade (IMC acima de 30) do que as pessoas de outras faixas etárias.
Apesar de fatores socioeconómicos e étnicos serem tidos em conta durante todo o estudo, mostraram ter pouca relevância na hora de prever o peso (ou sobrepeso) de uma pessoa na década seguinte.
Calcular o risco de obesidade a curto, médio e longo prazo
Após terem concluído que a idade é, de facto, um fator determinante para a obesidade – em parte devido ao estilo de vida que é levado nesta fase -, os cientistas da University College London decidiram dar uma nova vida ao cálculo do IMC e criaram uma ferramenta que permite avaliar o risco de excesso de peso e obesidade nos próximos 12 meses, cinco anos e dez anos.
“Nós fornecemos a primeira calculadora de risco de obesidade de alta resolução com base na idade, sexo, grau de privação social, etnia e IMC atual para identificar o risco de alterações intra-individuais no IMC e transição entre as categorias de IMC”, lê-se no estudo.
Ao contrário do IMC convencional, que apenas se baseia na idade, peso e altura da pessoa, este novo método tem em conta também fatores socioeconómicos e étnicos. O objetivo desta nova ferramenta – que pode ser acedida online – é personalizar ao máximo a avaliação, de modo a que os sistemas de saúde beneficiem de informação detalhada e privilegiada para que a prevenção e a atuação sejam mais céleres e eficazes.
“As nossas descobertas também sugerem que iniciativas regionais e nacionais voltadas para áreas socialmente carentes podem ser complementadas com o foco em jovens adultos. Em segundo lugar, os jovens adultos são cada vez mais o foco das políticas de saúde que procuram abordar um amplo leque de questões, incluindo abuso de substâncias, saúde sexual, saúde mental, violência e criminalidade”, esclarecem os investigadores.