Indivíduos com empregos mentalmente estimulantes têm um risco menor de demência relativamente àqueles que têm empregos não estimulantes, sugerem um novo estudo, que explorou a relação entre a estimulação mental no trabalho, o risco de demência e certas proteínas que previnem que as células cerebrais formem novas conexões.
A investigação, publicada na última quinta-feira na revista científica britânica The BMJ, envolveu a análise de mais de 100 mil pessoas da Europa e dos EUA, com uma média de 44 anos e que trabalham no setor público ou no setor florestal. Foram tidos em conta fatores como ter ou não doenças crónicas As análises foram realizadas entre 1986 e 2002 e os participantes foram avaliados em 2017, para se determinar quantos tinham desenvolvido demência.
A equipa de investigadores concluiu que há, de facto, uma diferença na maior ou menor propensão de se desenvolver demência entre pessoas com empregos que estimulam cognitivamente o cérebro e incluem tarefas exigentes com um grande nível controlo, como por exemplo funcionários do governo, gerentes, diretores e executivos e profissões não tão estimulantes para o cérebro e pouco exigentes cognitivament.
Dos participantes, 29 243 (27,1%) tiveram baixa estimulação cognitiva no trabalho, 50 724 (47,0%) tiveram estimulação média e 27 929 (25,9%) tiveram alta estimulação. Os investigadores sugeriram, então, que a estimulação cognitiva está associada a níveis mais baixos de três proteínas (SLIT2, AMD e CHSTC), que podem inibir certos processos no cérebro. “Os níveis de demência aos 80 anos observados em pessoas que experimentaram altos níveis de estimulação mental foram observados aos 78,3 anos naquelas que experimentaram baixo estímulo mental”, refere, num comunicado, Mika Kivimaki, autor principal do estudo e Professor do Instituto de Epidemiologia e Cuidados de Saúde da Universidade College London. “Isso sugere que o atraso médio no início da doença é de cerca de um ano e meio, mas provavelmente existe uma variação considerável no efeito entre as pessoas”, acrescenta o autor.
Os resultados mostraram que a incidência de demência era de 4,8 em 10 mil pessoas por ano no grupo de alta estimulação e 7,3 no grupo de baixa estimulação, tendo em consideração fatores que podem influenciar esses resultados, como a idade, o sexo, o grau de escolaridade e o estilo de vida.
“A estimulação cognitiva previne ou adia o início da demência, mas os resultados dos testes variam e os estudos de longa duração mais recentes sugerem que a atividade cognitiva de lazer não reduz o risco de demência”, explica, ainda, Mika Kivimaki.
Já se sabia que a estimulação cognitiva pode adiar ou prevenir o início da demência. No entanto, os estudos anteriores tinham uma amostra pequena que condicionava os resultados. Ainda que a investigação em questão tenha sido meramente observacional e não permita estabelecer uma razão de causa, o grande tamanho da amostra é uma mais valia.
De acordo com Sara Imarisio, responsável pelo centro de pesquisa de Alzheimer do Reino Unido, este “grande e consistente estudo contribui para um conjunto de evidências que sugere que permanecer mentalmente ativo é importante para ajudar a reduzir o risco de demência. Nem todos podem escolher o tipo de emprego que realizam, mas estudos como este destacam a importância de encontrar atividades que ajudem a manter o cérebro ativo”.