1 – Posso ser infetado e transmitir o vírus apesar de ter a vacinação completa?
Sim, sem dúvida. Não será tão fácil apanhar Covid-19, mas já lá vamos. As percentagens que nos habituámos a associar às vacinas referem-se ao facto de prevenirem a evolução para doença grave, a hospitalização e consequentemente as mortes. Dois exemplos: um estudo recente da agência de Saúde Pública britânica mostra que as duas doses da Astrazeneca têm uma eficácia de 80,9% contra a doença sintomática no caso da variante Delta (tinha 86,8% de eficácia em relação à variante Alpha); a prevenir o risco de hospitalização, a Astrazeneca é 92% eficaz com a Delta. O mesmo estudo analisou a Pfizer e garante que as suas duas doses são 87,5% eficazes a prevenir doença sintomática e 96% eficazes contra o risco de hospitalização (variante Delta considerada). Portanto, a conclusão é que as vacinas são altamente eficazes a prevenir a doença grave, mas um outro estudo do Imperial College London mostra que as vacinas são bem menos eficazes a prevenir a infeção. Neste caso, a sua percentagem de êxito situa-se entre os 50 e os 60 por cento. Mesmo sem sintomas, uma pessoa totalmente vacinada e infetada pode contaminar os outros.
2 – As pessoas vacinadas apresentam a mesma carga viral das pessoas não vacinadas?
Sim, isso pode acontecer. Aliás, nos Estados Unidos da América, vários estados deixaram cair a obrigatoriedade do uso de máscara em locais fechados, mas tiveram de voltar atrás. Um estudo da Universidade de Massachusetts mostra que as pessoas vacinadas apresentam a mesma carga viral do que as pessoas não vacinadas, o que levou o CDC (Centro de Controlo e Prevenção de Doença) a recomendar, de novo, o uso de máscara em locais fechados. Ou seja, ao nível da transmissibilidade parece que não nos livraremos da máscara tão cedo. Por outro lado, apesar da carga viral idêntica, vários estudos mostram que as vacinas fazem com que a infeção seja debelada mais cedo e com mais eficácia. As vacinas reforçam as nossas defesas naturais contra o vírus, levando o corpo a preparar-se com antecedência, dando tempo às células B e às células T para produzir anticorpos e estudar as características do vírus… para o eliminar.
3 – Porque estão a morrer pessoas totalmente vacinadas contra a Covid-19?
Primeiro vamos aos números. Segundo dados da Direção Geral da Saúde enviados ao jornal Público, mais de 99% das mortes por Covid-19 entre os dias 10 de janeiro e 11 de julho de 2021 registaram-se em pessoas sem a vacinação completa. Nesse período, morreram 57 pessoas que tinham a vacinação completa, representando 0,6% do total de óbitos por Covid-19. “Os números indicam que a inoculação reduz entre três a seis vezes o risco de morte”, conclui o Público. A realidade portuguesa não é diferente do que se passa lá fora entre os países com altas taxas de vacinação. Nos Estados Unidos da América, por exemplo, 99,5% das mortes ocorreram em pessoas não vacinadas. Ainda assim, é certo que morrem pessoas com a vacinação completa, como aconteceu na semana passada com o ator Tarcísio Meira, estrela das telenovelas brasileiras. A idade é fundamental naquilo que se chama imunossenescência, ou seja, deterioração imunológica provocada pelo envelhecimento. Mesmo com a vacina, o sistema imunológico simplesmente é incapaz de responder perante a ameaça, em certos casos. Daí que esteja em cima da mesa a hipótese de os idosos receberem uma terceira dose das vacinas, reforçando a capacidade de proteção. Mas não é só a idade a prejudicar o nosso sistema imunológico: o sedentarismo, a obesidade, a desnutrição ou a medicação com imunossupressores também prejudicam as defesas do nosso corpo.
4 – Se as pessoas vacinadas estão a ser infetadas pelo SARS-CoV-2, alguma vez conseguiremos atingir a imunidade de grupo?
Provavelmente não. Desde que a variante Delta se espalhou pelo mundo, já não há muita gente a acreditar na imunidade de grupo. A facilidade com que o SARS-CoV-2 agora se transmite, mesmo com as vacinas, não permite compará-lo a uma doença como o sarampo, por exemplo. E, embora as pessoas vacinadas tenham 50% de hipótese de escapar à infeção mesmo estando em contacto com uma pessoa contaminada, as infeções em vacinados vão sempre existir uma vez que não existe uma vacina que simplesmente impeça o vírus de entrar no corpo ou de se replicar. A chamada “imunidade esterilizante” continua a ser o “santo graal” que os cientistas perseguem no caso das vacinas contra a Covid-19. Ainda assim – e uma vez que as pessoas vacinadas apanham menos a doença, logo a transmitem menos também – as vacinas continuam a ser a melhor forma de nos protegermos e aos outros. Algo em que vale a pena pensar quando o medo da vacina ameaça a força da razão.