O café está entre as bebidas mais populares do mundo e o consumo mundial aumentou em todos os continentes a partir de 2020, segundo a organização mundial de café.
Para compreender a relação entre o consumo de todos os tipos de café (inclui descafeinado, solúvel e moído) e doença hepática crónica, um grupo de investigadores analisou, ao longo de 11 anos, o comportamento de quase meio milhão de habitantes do Reino Unido inseridos no banco de dados Biobank. O estudo foi publicado no final do mês de junho, no jornal BMC Public Health.
Os participantes puderam inscrever-se no projeto entre 2006 e 2010 e tinham entre 40 e 69 anos, não tinham histórico de doença hepática crónica e apenas 384.818 afirmaram ser consumidores de café. Todos foram avaliados e questionados sobre o historial médico e estilo de vida, realizaram exames físicos e forneceram amostras de urina e sangue.
As conclusões demonstraram que consumir três ou quatro chávenas de café por dia reduz em 21% a probabilidade de desenvolver doença hepática crónica, em 20% a probabilidade de desenvolver doença hepática não alcoólica e em 49% a probabilidade de morrer de doença hepática crónica, comparativamente a quem não tem este hábito de consumo. Ao todo foram diagnosticados 3600 casos de doença hepática crónica, 301 mortes e 1839 casos de doença hepática não alcoólica.
“O café é amplamente acessível e os benefícios que vemos no nosso estudo podem significar que pode oferecer um potencial tratamento preventivo para doenças crónicas do fígado”, disse o autor do estudo, Oliver Kennedy, num comunicado.
Especificando o tipo de café, quem obteve maior benefício foram os consumidores de café com cafeína ou descafeinado moído, seguindo-se os consumidores de café instantâneo. O café moído tem propriedades anti-inflamatórias, mas é composto por cafestol, um antioxidante que aumenta o mau colesterol. De um modo geral, todos os consumidores de café obtiveram resultados de risco muito inferiores a quem não consome a bebida.
A doença hepática crónica é qualquer forma de doença hepática avançada, em que o fígado foi exposto, de forma continuada, a uma ou várias formas de agressão. O fígado é responsável pela manutenção do equilíbrio do organismo e tem funções como a formação de fatores para a coagulação do sangue e eliminação de toxinas. Quando agredido prolongadamente e incapaz de se regenerar de forma correta está-se perante uma doença hepática crónica. O consumo excessivo de bebidas alcoólicas, obesidade, infeções pelos vírus das hepatites B e C, a hepatite autoimune, a hemocromatose hereditária ou a cirrose biliar primária são exemplos de causas possíveis que afetam o fígado.
Em Portugal, as doenças do fígado encontram-se entre as dez primeiras causas de morte no país e desde 2000 que a tendência tem aumentado, de acordo com os dados disponibilizados no Our World in Data.
Num estudo de 2017 verificou-se que houve um aumento de 75% nos casos de cancro do fígado em todo o mundo entre 1990 e 2015. Os países mais afetados são sobretudo da África Subsaariana e da América Central. A taxa de sobrevivência neste tipo de doenças é baixa, por ser uma doença sem sintomas iniciais, o que faz com que seja descoberta já numa fase avançada.