Enquanto nos Estados Unidos da América (EUA) já se discute o fim da utilização das máscaras, após terminar a pandemia, na Índia batem-se recordes de novos casos e, também, de número de mortos que, nas últimas semanas, se aproximaram dos 4 mil por dia, segundo dados oficiais.
Existe um fator determinante que pode ajudar a explicar os diferentes cenários nos dois países: Os EUA inocularam perto de 46% da população com, pelo menos, uma dose da vacina contra o SARS-CoV-2. Já na Índia, a percentagem de pessoas total ou parcialmente imunizadas não chega, sequer, aos 10%.
A desigualdade no combate à epidemia é uma ameaça global, já que a livre circulação do vírus em países onde a imunização é escassa contribui para o aparecimento de novas variantes
A nível global, o número de infeções não regressou ao pico registado no final de abril (de mais de 900 mil casos diários) e tem vindo a diminuir na última semana, mas alguns países enfrentam novas vagas da epidemia.
O sudeste asiático está a ser particularmente atingido pelo coronavírus. A Tailândia, por exemplo, somou 1 871 casos diários a 29 de abril, um novo máximo nacional, enquanto o Camboja bateu o seu recorde de infeções a 4 de maio, com 938 contágios.
Sem sinais de abrandamento na transmissão da doença, a Malásia decretou um novo confinamento geral esta semana. Em comum, os três países têm uma baixa taxa de vacinação, que varia entre os 4 e os 10% da população.
A desigualdade no combate à epidemia é uma ameaça global, já que a livre circulação do SARS-CoV-2 em países onde a imunização é escassa contribui para o aparecimento de novas variantes que podem implicar riscos para todo o planeta.
Ainda esta semana a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a variante B.1.617, inicialmente identificada na Índia, como “variante de preocupação” por ser mais contagiosa do que o vírus original.
O mistério das Seychelles
“Globalmente, ainda estamos numa situação perigosa”, afirmou recentemente o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. Enquanto uma grande parte da população mundial continuar por inocular, a evolução da pandemia será instável.
Em África, por exemplo, apenas cerca de 1% da população do continente foi imunizada. E, em todo o mundo, só dois países completaram a vacinação de mais de metade da população: Israel e as Seychelles.
Em África, por exemplo, apenas cerca de 1% da população do continente foi imunizada. E, em todo o mundo, só dois países completaram a vacinação de mais de metade da população: Israel e as Seychelles.
Apesar de quase 70% da população das Seychelles ter sido inoculada, o arquipélago foi obrigado a voltar a impor restrições na semana passada devido ao aumento do número de infeções. Na segunda-feira, dia 10, o país com uma população de 100 mil pessoas somava 2 486 casos ativos.
A situação veio alertar para a possibilidade de a imunidade de grupo não ser atingida com 70% das pessoas protegidas contra o vírus. E também despertou o debate em torno da eficácia de algumas vacinas.
Cerca de 60% dos ilhéus foram inoculados com a Sinopharm, desenvolvida por um laboratório chinês, e os restantes com a Covishield, fabricada na Índia sob licença da AstraZeneca. De acordo com a OMS, a vacina chinesa tem uma eficácia de 78% e a da AstraZeneca de 79%.
As autoridades das Seychelles fizeram questão de sublinhar que 65% dos novos casos correspondem a pessoas que receberam uma ou nenhuma dose das vacinas. Além disso, não se têm registado casos graves e o número de vítimas mantém-se estável – menos de três dezenas desde o início da pandemia.
O SARS-CoV-2 já provocou cerca de 160 milhões de casos de Covid-19 em todo o mundo e mais de 3 milhões de mortos.