Ainda que, tanto a entidade reguladora para os alimentos e os medicamentos (FDA) como a Pfizer, tenham recusado comentar as notícias dadas por vários meios de comunicação social norte-americanos, esta segunda feira, o Financial Times assegura que duas pessoas, próximas do processo de aprovação, revelaram que a FDA deverá dar luz verde, já na próxima semana, ao pedido para a utilização de emergência da vacina Pfizer-BioNTech em crianças e adolescentes entre os 12 e os 15 anos.
O pedido foi apresentado há cerca de um mês, após a divulgação dos resultados de um estudo avançado, em mais de dois mil adolescentes, que mostrou que a vacina é segura e eficaz nestas faixas etárias. A Pfizer informou, há várias semanas, que nenhum dos adolescentes no ensaio clínico que recebeu a vacina desenvolveu infeções sintomáticas, sinal de proteção significativa.
A empresa anunciou ainda, no final de março, que os voluntários produziram fortes respostas de anticorpos e experimentaram os mesmos efeitos colaterais observados em pessoas com idades entre os 16 e os 25 anos. As crianças continuarão, ainda assim, a ser monitorizadas, para proteção e segurança a longo prazo, por mais dois anos.
A Europa seguirá o exemplo norte-americano?
A fabricante alemã de vacinas e a farmacêutica norte-americana também já solicitaram oficialmente aos reguladores da União Europeia que ampliassem a aprovação da vacina contra o coronavírus a fim de incluir adolescentes entre os 12 e os 15 anos. A Agência Europeia do Medicamento (EMA) irá agora analisar o pedido e, como explicou, na quinta feira 29 de abril, o CEO da BioNTech, Ugur Sahin, à revista alemã Der Spiegel, a avaliação “levará de quatro a seis semanas em média”.
Sahin sublinhou ainda a grande importância em “permitir que as crianças voltem às suas vidas escolares normais e que se reúnam com a família e amigos”, acrescentando que a vacina deverá estar disponível para jovens dos 12 aos 15 anos na Europa até junho, caso seja dada luz verde ao pedido. Resta agora esperar pela decisão da EMA.
É realmente necessário vacinar as crianças?
Atualmente, em Portugal, a vacina da Pfizer está aprovada para pessoas com mais de 16 anos. Tal como sublinha Miguel Prudêncio, Investigador Principal do Instituto de Medicina Molecular, “nas pessoas mais jovens, excluindo casos muito pontuais, a Covid-19 não gera situações graves”.
Por esta razão, o especialista não vê a vacinação das crianças como uma necessidade imperiosa para a proteção das mesmas. “Num cenário ideal, em que toda a gente vulnerável já estivesse vacinada, não vejo que a vacinação das crianças fosse essencial, porque a doença não assume formas graves em crianças e porque o contacto com o vírus vai acabar por gerar alguma imunidade”.
Ainda assim, apesar de os jovens serem menos propensos a sofrer de casos graves de Covid-19, podem ter uma infeção assintomática, transmitindo inadvertidamente o vírus a outras pessoas. Mas, no contexto nacional, onde o plano de vacinação contra a Covid-19 dá prioridade precisamente aos mais velhos e vulneráveis (pessoas com mais de 60 anos ou com comorbilidades), e a adesão às vacinas é alta, Miguel Prudêncio não vê a vacinação das crianças como uma prioridade. “Antes de pensarmos em vacinar crianças abaixo dos 16 anos, temos de nos preocupar em vacinar, como está previsto até ao final do mês, todas as pessoas acima dos 60 e todas as pessoas com comorbilidades identificadas”, defende.
O caso muda de figura se falarmos em países onde se prevê que haja uma fatia considerável da população vulnerável não vacinada. “Aí vamos contribuir para diminuir o risco de transmissão a essas pessoas”, afirma Prudêncio. É o que se passa nos Estados Unidos da América, “um país onde a hesitação em relação à vacina contra à Covid-19 atinge percentagens muito elevadas”.
Sondagens mostraram que 20% da população norte-americana está relutante em relação à vacina enquanto que outros 15% se recusam mesmo ser vacinados. O país terá, portanto, faixas importantes da população vulnerável que podem não estar vacinadas e entrar em contacto com crianças. “Nesse contexto, vacinar as crianças significa diminuir a probabilidade de infetar essas pessoas”.
Miguel Prudêncio explica ainda que as variantes não mudam as regras do jogo, pois, em primeiro lugar, “não temos atualmente nenhuma variante que vá causar Covid severa em crianças” e, em segundo, se por acaso surgisse uma variante que anulasse por completo o efeito da vacina, anularia tanto o da vacina dada à criança como ao adulto. “Não estamos num cenário em que exista uma variante de tal forma diferente que as vacinas sejam totalmente ineficazes”, assegura o especialista.
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