O médico Jorge Sales Marques analisou os vários estudos e explica o poder de cada vacina para enfrentar as várias mutações do coronavírus. O especialista, num artigo que elaborou, compara o impacto de nove vacinas na variante do Reino Unido ( B.1.1.7), na variante de Manaus ( P.1), na variante da África do Sul (B.1.351) e nas “não variantes “, em concreto aquela que teve mais expressão em Portugal. Sales Marques, que esteve nos serviços de Saúde de Macau, estando agora no Centro Hospitalar de Gaia, esclarece o efeito, uma a uma, das imunizações contra a Covid-19.
A vacina da Pfizer e da BioNTech tem uma eficácia de 95% nas chamadas “não variantes “, a mesma percentagem na variante P.1 de Manaus . Na variante inglesa, esta percentagem desce para 85% e no que que toca à variante sul-africana, a vacina é cerca de dez vezes menos eficaz . Esta vacina usa a tecnologia RNA mensageiro.
A vacina da Moderna tem uma eficácia de 94.1% na “não variante “ e na variante britânica. Mas é quatro vezes menos eficaz numa das variantes sul-africana , não havendo dados suficientes em relação à variante (P.1) brasileira. Esta vacina usa a tecnologia RNA mensageiro.
A alemã Curevac parece ser eficaz na variante britânica e na sul africana. Mas não há informação precisa sobre a variante de Manaus e a “não variante “. Esta vacina usa a tecnologia RNA mensageiro.
A vacina da AstraZeneca tem uma eficácia de 66.7% na “não variante “, entre 60-74.6 % na variante britânica e apenas 10% na variante sul-africana ( B.1.351) . Não há dados suficientes sobre a eficácia na variante brasileira( P.1). A vacina é produzida através de um vetor de vírus não replicante.
A Johnson&Johnson é eficaz em 66% na “não variante” e em 52% na variantes sul-africana. Não existe atualmente informação suficiente sobre as variantes inglesas e de Manaus. A vacina é produzida através de um vetor de vírus não replicante.
A Sinopharm Beijing tem uma eficácia de 86% na “não variante “ mas na é 1.6 vezes inferior o seu efeito na variante sul-africana. Não existem dados para atuais afirmar a eficácia na variante de Manaus. Criada através da inativação do vírus.
A vacina indiana Covaxin não apresenta, para já, dados estudos clínicos suficientes para podermos afirmar a sua eficácia em relação as diferentes variantes . Criada através da inativação do vírus.
A vacina da Novavax tem uma eficácia de 89.7 % na “não variante” , 86.3% na variante britânica, 48.64 % na variante da África do sul (B.1.351). Não há informação atual sobre a variante P.1 de Manaus. Criada através da inativação do vírus.
A chnesa Sinovac é eficaz na não variante em 50.75% e na variante de Manaus em 50 por cento.
As que mais protegem
As vacinas são, sem dúvida, eficazes, na sua grande maioria, nas “não variantes “, bem como na variante britânica. Já outras variantes, os sinais podem ser mais preocupantes. Na variante sul-africana, a B.1.351, só as vacinas de Johnson&Johnson e a Novavax conseguem ter uma eficácia aproximada de 50 por cento. Quanto à variante brasileira , P.1 , é apenas controlada através da vacina da Pfizer e da BioNTech. Com menor eficácia, a Sinovac, também atua nesta última em 50 % dos casos.
Outras preocupações
Existem outras variantes que vão ter, certamente, um papel importante a curto prazo na evolução da pandemia. As variantes N501Y , E484K e K417N, detetadas inicialmente na África de Sul, Japão e Brasil , têm um grau de transmissibilidade superior a outras variantes circulantes até agora descritas , mas por outro lado não têm um grande impacto no grau de severidade e mortalidade .
![](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2021/04/thumbnail_IMG_5379-fotos-jorge-marques-macau-810x1080.jpg)
A capacidade de neutralização destas variantes é pequena, podendo ter uma maior possibilidade de reinfeção por este motivo.
O que está em causa neste momento é verificar se as vacinas existentes são ou não eficazes contra estas variantes e outras possíveis variantes que certamente irão aparecer para complicar ainda mais o panorama atual da pandemia.
Dúvidas que pairam
Uma dúvida que paira sobre os cientistas tem a ver com a possibilidade de cada pessoa poder fazer duas vacinas diferentes, quer por falha na entrega das doses, quer por escassez na produção de alguma delas ou mesmo com uma nova orientação da faixa etária para a sua aplicação como aconteceu recentemente com a vacina da AstraZeneca. Será que esta segunda dose poderá ser de uma outra vacina produzida por tecnologia diferente? Por exemplo, quem tenha tomado a primeira dose de vacina da BioNTech, produzida por RNA, pode fazer a segunda dose de uma vacina inactiva do tipo Sinovac? Ou será que a segunda dose terá de ser dada do mesmo grupo, neste caso específico, a vacina da Moderna? A associação de diferentes vacinas não irá potenciar os efeitos adversos?, questiona Jorge Sales Marques.